Ontem aguentei-me até mais tarde a fazer aquilo que considero ser uma actividade puramente masculina: zapping. Vi uma série de entrevistas ao malogrado Michael Jackson, nas quais insistia em negar qualquer cirurgia plástica, abanava freneticamente o seu filho de poucos meses, comprava jarrões e peças profundamente kitsch e escandalosamente caras, reiterava o seu amor pelas crianças e revelava, acima de tudo, uma imaturidade e uma infantilidade fragilizadas por uma fama tão precoce. À medida que centenas de pessoas o perseguiam para qualquer lado (QUALQUER LADO), apercebi-me da excentricidade do senhor bem como da infinita solidão. Senti pena e comiseração. Todavia, sentia-o já meio cadáver. Quando acabou, mudei de canal para ver a maratona de luta da actriz Farrah Fawcett contra o cancro. O desrespeito da imprensa, a fuga de informação do hospital. O sofrimento de um pai que já havia perdido uma filha com cancro. Achei admirável a luta desta mulher mas não tive estômago para ver até ao final. Não há coisa pior que vivermos com um inimigo dentro de nós e sentirmos que perdemos a guerra. Fica aqui um dos calendários mais famosos que adornou tudo o que era garagem e oficina americana nos anos 70. Não é do branco de cima. É da branca de baixo.
domingo, 28 de junho de 2009
Possession
É muito engraçado como somos naturalmente possessivos com a pessoa que amamos. Uns dir-se-ão mais, outros menos, mas a verdade é que por muito que a gostemos de a sentir livre (nunca me esqueço do que dizia um marido de uma grande amiga "se te deixarem livre para regressares quando quiseres e tu regressares, então é porque "sim") não conseguimos evitar senti-la como se fosse nossa. Repentinamente, nós, que nada tivemos, somos proprietários de um outro ser, com um conjunto de idiossincrasias completamente distinto do nosso, que o destino lançou no nosso caminho. Muito bem, não podia ser mais disparatado, mas seja. A teoria racional procura imperar sobre as emoções mas, inevitavelmente, o desejo de possuir todos os detalhes daquele universo, de dizer estupidamente que este ou aquele bocadinho do outro nos pertence, usando possessivos por dá cá aquela palha, escapa-se-nos pela voz e pela vontade. Quando descobrimos coisas do passado que, racionalmente, não são mais que isso mesmo, passado, pó, história, lembranças boas ou más, não conseguimos evitar uma sensação de usurpação dolorosa. Quando queremos o outro, queremo-lo com tudo o que ele é, foi e será. Estupidamente, claro, como se o amor fosse única e exclusivamente nosso. É de um grande egoísmo, onde não impera qualquer razão. Mas enfim, quando vi aquelas fotos que nada tinham mais que história de um passado não pude deixar de me sentir agoniada, como se roubassem um pedaço que é meu. Uma estupidez, eu sei.
sábado, 27 de junho de 2009
My choice II
Aqui estão os que faltavam. A escolha foi complicada.
Dr. Kindness
Me, myself and I
Brasil the second
The medical centre
Away from it all
I wouldn't call it delivering services
Those bloody SMS
Dead Portugal
Carjacking
Love as a commodity
Should I throw my towel?
Dr. Kindness
Me, myself and I
Brasil the second
The medical centre
Away from it all
I wouldn't call it delivering services
Those bloody SMS
Dead Portugal
Carjacking
Love as a commodity
Should I throw my towel?
sexta-feira, 26 de junho de 2009
My choice
Nesta existência tão pequenina, decidi escolher os textos que até agora me deram mais prazer escrever neste blog. Vou recuar até Outubro. Só para matar saudades.
Chicks
Shoot
At the bank
Clinical blowjob
Alá can't even imagine
Words
SexShop
BIMBI
My left and right feet
I want to get married
Perfect relationships
Chicks
Shoot
At the bank
Clinical blowjob
Alá can't even imagine
Words
SexShop
BIMBI
My left and right feet
I want to get married
Perfect relationships
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Leite Derramado
Ah, é verdade. Li de uma assentada o novo livro do Chico Buarque. Eu perdida naquela maravilha e enquanto o V. lá estava, coitado, embrenhado naquela linguagem técnica da dissertação.
Aconselho vivamente (o livro, porque as teses matam qualquer um). Até me esqueço que daqui a uns anos serei inundada por aquela ortografia tão pouco natural, por decreto de legisladores que nada sabem do organismo vivo que é a língua. Que o português do Brasil me chegue assim, de livro, cantado numa maravilha literária, aceito. Agora, num acordo de m..., não posso aceitar.
Dou graças aos malabarismos da memória do protagonista da narrativa. Hoje doem-me os olhos mas fiquei com a alma deleitada. Agora vou fazê-lo rodar, pelos olhos e mãos de quem quero bem.
That little thing under the C
Custa-me entender, nos mecanismos da acção e crescimento humanos, como é possível que alguém informado, supostamente culto, com um doutoramento em História, se não estou em erro, insista em escrever o "c" como "Ç" antes de E ou I - "Hoje almoçei em casa; vaça você isso; não estudei françês;".
Poucas coisas me causam urticárias repentinas. Os erros ortográficos são uma delas. Compreendo alguns erros, menos óbvios, de palavras que surgem ocasionalmente, indevidamente influenciadas por qualquer bordão linguístico ou como manifestação de um regionalismo. Agora a cedilha no C antes dos I e dos Es?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não percebo, não aceito, não tolero e acho uma falta de educação que alguém que tenha estudado mais que o 9º ano (não incluo as Novas Oportunidades, apesar das supostas vantagens) se esqueça das regras básicas de ortografia. Deviam pagar multas! Um dia destes, esqueço-me de uma outra convenção como o código da estrada e estaciono em cima de tudo o que é passadeira e ai, AI de quem me multe!
sexta-feira, 19 de junho de 2009
MY son
Esta história tem tanto de belo como tem de falso.
Ela era uma jovem de quinze anos. Uma menina, como dizem por aqui. Ele tinha dezoito ou dezanove mas fez-lhe um filho. Ficaram juntos depois de apaziguado o escândalo entre família dele, grande, dominadora e repleta de irmãs beatas, e a família dela, pai e mãe, conservadores quanto baste. Aqui chamam-lhes atrasados. O menino nasceu. De uma menina.
Sem vontade de estudar, nem sequer apoio para tal, já que agora se tornara mulher, forçada pelas contracções da natureza, foi trabalhar para um café que a família dele tinha. Saiu de um controlo para outro. Este sem as amarras desculpáveis do sangue. O café ficava cheio de velhos bêbedos, pendurados no balcão, gastando as horas a encharcar os poros e a roupa bafienta com bagaços e minis. Babam-se, sem dentes, pela noviça que serve ali, contra vontade, vigiada pelos olhos de rapina das cunhadas ressabiadas. Lançam um rumor, boato vil indiciando que ela cedeu perante a vontade de um homem, mais velho, que se parou ali, pendurado no balcão elogiando as curvas da menina ainda não feita mulher. As cunhadas alimentam o rumor, o marido desconfiado, eriçado, enfeitado na fronte pelo veneno alheio e pela desconfiança na juventude insensata, escorraça-a. As cunhadas escorraçam-na. Os pais escorraçam a filha porque a vergonha lhes enche a casa com os comentários do povo. Melhor será afastar a menina-mulher e esquecer que a pariram.
Fica sozinha. O marido proíbe-a de ver o filho. Anos passam e ele refaz a vida. Tem uma filha mais nova de outra mulher. Roliça, melhor, gorda. Uma menor fonte de preocupações para um espírito desconfiado e inquieto. A menina, agora jovem mulher, tem namorado. Durante 12 anos procurou aproximar-se do filho. O pai não deixava. A mulher carregava a sua desonra. Tirou-lhe o filho. Proibiu-o de ver a mãe. De lhe telefonar sequer. Ela fotografava o seu menino à distância, via os seus jogos de futebol das bancadas. Via-o crescer saudável, sempre longe do seu carinho, da sua voz doce a sossegar noites febris. É melhor nem insistir muito. O pai ralha-lhe. Ainda lhe bate, se for preciso.
Há duas semanas, num dia quente de fim de Primavera, o pai foi com a família à praia. Praias que ganham às falésias do Oeste, ainda à espera da acalmia do verão. O filho foi nadar. A corrente era forte, as rochas prenderam-no. O fundo segurou-lhe a vida. As ondas devolveram o corpo à família paterna uma semana depois.
No funeral, o pai agarrava-se ao caixão e gritava pelo seu menino que sempre protegeu. A mãe chorava afastada do seu menino, pois quando se quis chegar ao corpo do filho que nunca pode amar foi ofendida e escorraçada pela família paterna, hienas acossadas pela dor e ignorância.
O pai perdeu o seu menino. Sempre o quis para si. Agora tem-no ali, hirto e inchado. A mãe não sabe o que perdeu. Mas, em silêncio para não inquietar as hienas, as lágrimas quentes escorrem na pele sofrida.
domingo, 14 de junho de 2009
Suggestions
Isto da blogosfera tem o pendão interminável de nos enredar em sugestões deliciosas. Passeio-me por blogs tão bem escritos e diarísticos que não consigo evitar a parcialidade imediata das sugestões que se me oferecem, assim, como uma ameixoeira carregada de frutos gordos e suculentos. Vou já apanhar, aproveitando a boca cheia de água e antes que se esborrache no solo ressequido do verão. Amanhã compro Leite Derramado do Chico Buarque.
Rest
Tenho um problema grave com o ócio. Cada vez que estou sem ele tenho necessidade de o ter na minha vida. Quando me posso refastelar numa espreguiçadeira convidativa à beira de uma piscina e deixar que o sol regue a minha pele com melanina, não aguento mais que dois dias. Ao terceiro dia de preguiça total e absoluta, na qual só os livros se podem imiscuir, não há serra verdejante que me prenda o olhar ou chilrear de pássaros que me seduza. Ao fim de um tempo mergulhada no ócio, só me apetece pegar numa fisga, abater os birds e ir ao cinema. Acho que preciso de ajuda.
sábado, 13 de junho de 2009
The very special one
Três dias consecutivos a falar de um homem. Um homem que rende milhões a clubes e a outros homens que o rodeiam, não pelo prazer da sua companhia ou pela beleza do seu discurso. Só porque o tipo joga bem. Sim, o homem joga bem. Mas daí a esquecer guerras, fome, miséria, crise nacional e internacional, bancos sem dinheiro e políticos à caça de mais... porra! Tenham dó. Eu não quero saber a cor das cuecas que Paris Hilton usou para seduzir o Ronaldo! O discernimento dos canais de informação televisivos é, neste momento, inexistente. Este país rendeu-se à fama e ao poder dos outros, aos números astronómicos e vergonhosos do desporto rei (imaginem este dinheiro investido na luta contra o cancro...). Se até a maior instância governativa do nosso país gasta a sua voz rouca para falar do madeirense! Ao que chegámos... a culpa nem é do madeirense, pá. Esperto é ele, despachar as louras famintas em seu redor. A culpa é do sistema. A culpa é do povo. A culpa é de quem tem poder para fazer de forma diferente. O povo consome o que lhes dão. O problema reside nas classes dirigentes, naquelas pequenas oligarquias informativas onde os "líderes" são uns pequeninos Hugo Chávez que alimentam a pobreza espiritual deste pequeno país. Dão ao povo miséria, grandeza de outros, o sonho inatingível para milhares de pernas e corpos fabris que nada percebem de bola. Quem escolhe a comida para dar ao povo decide se o quer rico, nutrido e inteligente. Receio que estejamos a alimentar cérebros ressequidos, dolentes e acríticos. Venha mais futebol. Já agora, acompanhem com minis e tremoços, para não se dar tudo por perdido.
domingo, 7 de junho de 2009
The ballot
Votem, caraças. Votem branco ou nulo se as propostas e os candidatos vos cheirarem a esturro mas não ignorem que há quem tome decisões por nós, há quem tente ou finja, e quem gostasse de levar o país para a frente, à custa ou não dos nossos impostos e há, acima de tudo, decisões com as quais discordamos. Se não estamos contentes, mostremos o nosso descontentamento. Não podemos achar que nada temos a ver com as instituições democráticas do nosso país. Certamente que, esta gente dada ao absentismo, que constantemente se demarca de toda a corja política e corrupta, não ficaria em casa, impávida e serena, durante uma revolução para pôr fim a uma ditadura. Ou ficaria? Isto é como a defesa do meio ambiente. Se achar que sou a única a não reciclar, o mundo facilmente se torna uma lixeira.
sábado, 6 de junho de 2009
Theories1
O V. costuma dizer que eu tenho umas teorias engraçadas. Suponho que algumas serão pouco ortodoxas, sim, mas há uma qualquer lógica subjacente que me leva a construir silogismos para o comportamento humano pouco coerente. Decidi partilhá-las convosco, dando azo a discordâncias ou anuimentos sempre interessantes. Apesar de tudo, terei alguma dificuldade em reestruturar as minhas teorias. Já ganharam calcário no meu tambor cerebral.
- A maioria dos homens que faz manobras arriscadas, principalmente em espaços citadinos, como se de um rally se tratasse, e ofusca os condutores das esquerdas com máximos a piscar para passar o seu mercedes, ou cooper, ou outro qualquer motorzinho acelera, sofre do síndrome de pila pequena. Pode carregar no acelerador à vontade, ela não cresce.
- As pessoas que não gostam de animais têm que resolver alguns problemas de partilha e de entrega.
- As mulheres que insistem em puxar o namorado/ marido para a sua família, afastando a dele, com especial incidência para a sogra, serão péssimas mães, cujos filhos se sentirão sufocados.
- Os homens que compactuam com a insistência feminina supra-citada são bananas.
- Grande parte dos homens que ouça uma mulher falar de sexo de forma descontraída tentará engatá-la para o colchão mais próximo no espaço de uma semana.
- As mulheres que dizem às amigas "estás mais cheinha ou estás mais magra" e nunca "estás gira, ou uma brasa, ou elegante" precisam de um gajo na sua vida, urgentemente.
- As pessoas que saem sozinhas para se divertirem à noite também acreditam em milagres.
- Os homens que saem durante horas sem fim para pescar têm mulheres chatas e faladoras.
Tenho outras teorias mas infelizmente não me lembro de mais nenhuma. Terei que ir anotando à medida que surgem.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Scandal
A teacher in a school I know well was caught having some type of sex with a 15-year-old student. She knew what she was doing. They know, when they leave home with half their young bubs coming out of their clivages. However, he's 50 and he is... THE TEACHER. Inadmissable! Well, I don't know if she was trying to save her ass or have a twenty but I place my bets in the first one.
This is the ethical reflection because the first thing that came to my mind was "I know the son of the bitch; it can only be .....". It wasn't. Pity, though. I would have reasons to phone lots of common friends and chat the night away. Can't resist a scandal, unfortunately, but this guy I know is old school, he wouldn't let himself get caught like this. Dam.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Good morning
She likes to feel the touch of his swollen veins, blossoming from the heat of summer. The fingers strolling through her body, her hard nipples against his soft chest. The light sweat on his back, her hands clutching and slipping. The mouths opening and swallowing, legs interwined. Arms streching and holding an eager body. Sheets and hair in a mess.
She opens her eyes and softly whispers "good morning". With his shut, he answers back, smiling "good morning".
Where is the plane?
Impressiona-me e choca-me que neste mundo evoluído e tecnologicamente quase infalível seja impossível descobrir o que aconteceu a um avião. Não falamos de uma bóia ou de um bote salva-vidas, mas de um avião. É monstruoso, pesado e não passa assim tão despercebido. Aparentemente, o homem nada pode contra a força e imprevisibilidade das forças naturais. Se os céus decidiram desabar sobre um Air Bus desprotegido que atravessava uma interminável massa de água, tendo Neptuno engolido as suas vítimas como deus "sorvedor e caprichoso", que podemos nós fazer? Chorar, chorar infinitamente pela ausência, pela perda e pelo desconhecimento do que aconteceu àqueles pobres coitados de nomes mais ou menos sonantes. Acima de tudo, espero verdadeiramente que não se tenham apercebido do que lhes ia acontecer... Infelizmente, julgo estar errada.
Daqui a uns meses, vamos todos esquecermo-nos disto e voltar a rumar a paragens distantes, transatlânticas e pacíficas, como se nada fosse.
Eu adoro viajar. Faz parte da minha sanidade mental. Não sei porquê, tenho pavor de atravessar oceanos. Adoro voar por cima de casinhas, vales e planícies. Montanhas nem por isso. Até num eventual cenário de morte, prefiro terra firme.
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