domingo, 27 de junho de 2010

Assessment

Hoje recebi um mail daqueles em cadeia. Típico. Parecem as tribos africanas mas sem o factor identidade a uni-los. Juntos somos uma força. Sozinhos não valemos nada. O problema é que é motivado por pobreza de espírito e também por um espírito mesquinho. Parte do texto incluía isto:

Lembra-se que a aplicação para denúncia implica que o candidato deva identificar colegas do respectivo grupo de recrutamento que tenham sido beneficiados e que o tenham ultrapassado por esse motivo, o que é fácil fazer, pois à frente do nome desses candidatos vem um asterisco. Aliás, a identificação de candidatos(s) é condição para o campo de texto livre abrir.

Assim, é só pegar em alguém (de preferência em vários candidatos) que esteja à frente do reclamante, mas com menos de um valor de diferença. É que o asterisco só diz que o candidato teve bonificação, mas não esclarece se foi de 1 ou 2 valores, ou seja, por efeito de Muito bom ou Excelente.
Pede-se então, que os professores enumerem os poucos "beneficiados" que os "ultrapassaram". Que se aponte o dedo aos culpados. Por acaso já estão identificados... curioso. Pede-se que se queimem vários candidatos na fogueira. Pede-se que se lute pela mesma situação em que sempre estivemos. A estagnação.
O que é engraçado é que esta colega que me enviou o mail não deve fazer a mínima ideia que eu sou uma daquelas que tem asterisco. Durante anos vi gente passar-me à frente não por razões de competência, não por mérito, nem por terem tido um desempenho académico superior. Algumas por sorte, outras porque são boas "licking someone else's boots" para ganharem mais umas horinhas. Quando surge uma oportunidade para avaliar o meu desempenho - correndo vários riscos de tal acontecer de forma injusta, dado que o sistema está longe de ser perfeito - agarrei-a imediatamente. Agora, que subi bastante, os restantes indignam-se e reclamam injustiça. Muita gente deixou-se ficar, outros não quiseram saber, outros tiveram medo. Agora, enviam mails com correntezinhas pobretanas, apelando ao sentido de invejazinha medíocre. Lixem o pessoal dos asteriscos porque eles subiram por alguma ilegalidade. Não se podem quebrar a estagnação totalitária. Longe da função pública se sujeitar a diferenciar o trigo do joio. Assim, no marasmo da indiferença é que as coisas se devem manter.
Olhem, pois eu, como gaja de ASTERISCO que sou, grito bem alto "Fuck that! Eu não quero ser igual a todos os outros. Eu quero ser melhor. Tenho dito.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Thoughts on the world cup

Antes que sejamos eliminados (surpreendo-me perante esta resistência) acho que devo fazer algumas considerações sobre o campeonato do mundo:
1- Que raio de língua fala o Dunga? Não é que a imprensa brasileira o odeie. O seu linguajar é que é indecifrável... Agora, que a imprensa se indigne com a agressividade que dele emana é que me surpreende. Com um nome destes, têm sorte em não sacar de um revólver e proibir os jornalistas de entrar na conferência de imprensa.
2- A Itália provou do seu próprio veneno. Tanta estratégia, tanto empata... Ma donna... ou a Eslováquia é muito boa, ou aqueles equipamentos Dolce e Gabanna apertam os mamilos do Canavarro e dos restantes companheiros de tal forma que os deixam sem fôlego.
3- É impressão minha ou os braços do Maradonna são demasiado curtos? Isso, ou o rapaz não está habituado a usar fatos de corte fino. Deêm-lhe lá o fato de treino, o cabelo louro e umas linhas... brancas...
4- Ao contrário do que dizem os brasileiros - peço desculpa pela minha xenofobia futebolística mas já não os aguento - Deus não é brasileiro. É irlandês. Justiça foi feita. Au revoir, France.
P.S.- Neste momento, a polícia carrega sobre adeptos no Parque das Nações... foram os polícias que estiveram a beber, está visto... Mais um festim para a imprensa sensacionalista.

domingo, 20 de junho de 2010

Nobel


A única coisa que posso dizer é que ao ler O Memorial do Convento, aos dezasseis anos, chorei baba e ranho com o final. Há momentos em que ainda me lembro da cena em que Blimunda e Baltazar se catam. Digo cena porque para mim os seus livros eram fílmicos. A pontuação, ou a falta dela, é para separar os leitores dos enchedores de estantes.


O gajo tinha um feitio tramado mas uma obra fabulosa.

Que ele aceite espalhar as suas cinzas na terra que foi incapaz de fazer a separação entre o homem e a obra denota alguma grandeza, mesmo na morte. (É para fazer as pazes com o Criador Não Existente:).

Portuguese priorities

Eu - Tens que pôr a miúda no colégio. É para lá que vão todas as amigas e o espaço até é bom.

Pai - Vai bem para M... Está perto da mãe e ela pode vigiá-la.

(Ténis da Timberland - 130 euros. Calças da Replay - 140)

Eu - A mãe vai ter tanto tempo como tu para a vigiar e se a colocasse numa escola com menos droga e maior supervisão não precisava preocupar-se.

Pai-É fácil falar mas já viste o que se gasta? Se fosses tu a gastar 300 euros por mês estavas mas era caladinha!

(Dois carros na garagem - BMW - carrinha e desportivo branco - não percebo nada de modelos. Só sei que são caros e a gasóleo)


Eu - É só no 5º e no 6º. Até ao nono é grátis. A miúda teve as melhores notas da turma, vocês deviam procurar um espaço que assegurasse uma educação capaz e menos variáveis preocupantes, como o facto de ela só ter amigos rapazes que trabalham muito pouco. Já nem falo da droga....

Pai - Vai para M... e vai muito bem!

Eu - tu nem gastas nada para ir para o trabalho. Vais a pé. Se gastasses o que eu gasto em combustível.

Pai - Não interessa. É muito caro. Se podemos pô-la numa escola em que não se paga nada, não vamos gastar só para nos armarmos em ricos...

Eu - (Fiquei sem palavras).

(fim-de-semana - vão de BMW, a acelerar até Évora, enfartar as barrigas no Fialho e gastar 150 Euros no almoço).

Moral da conversa: 1 - a educação não cai bem no estômago.
2 - diz-me o que vestes, digo-te qual a licenciatura que tiraste.
3 - Um aluno bom supera quaisquer variáveis.
4 - Antes um BMW na garagem do que um canudo invisível.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Redeem

Antigamente o pessoal confessava-se ou limitava-se a sentir uma profunda vergonha por fazer figuras tristes. Os americanos são especiais. Como bons puritanos que são, depois de uma piela vergonhosa ou serem apanhados pela polícia (ainda a arrotar a donuts) com pintinhas brancas no nariz e com muito comichão, e da consequente fotografia hedionda com a placa prisional, tentam redimir-se. Não, não procuram um confessionário. Vão à Oprah ou ao David Letterman... pretty much the same, I guess.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Diets

X - Podemos ir comer um gelado?
A- Boa ideia.
H- Não, não posso. Encetei uma dieta porque não gostei do peso que a balança me deu hoje.
A - E qual foi?
H - 75 quilos.
X- Isso não é peso desagradável. É obesidade.
H- Olha que tu...!
X- Eu já pesei setenta quilos, sei bem o que digo.
H- Vocês vão ver, em Julho vou pesar menos cinco quilos.
A- Isso é muito, não te metas em loucuras!
X - Cinco quilos? Pois sim... como vais resistir? Tu adoras comida, :)!
H - Vais ver! Apostamos um jantar?
X- Já começas a descarrilar.....


P.S. - Um beijinho para ti, gulosa :))

Why?

Respondendo a um repto de uma blogueira que estimo muito, e simultaneamente de uma amiga que guardo no coração, aqui vai.

1. Porque que é que criou um blogue e, quando o criou, tinha expectativas de que fosse popular?
Criei um blog para saber se conseguia escrever para além do meu espaço profissional, para desabafar e para partilhar experiências. Não tinha quaisquer expectativas. Não faço ideia do número de pessoas que lêem o meu blog mas agradeço a todos os desconhecidos que o fazem por prazer.

Em que data exacta iniciou o blogue?
Se não me engano foi a 16 de Janeiro de 2008.

Nomeie 5 seguidores leais.
Acho que não tenho assim tantos:) mas aqui vai:

Obviário

A terceira via

À conversa

A mulher de trinta anos

Kafka

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Roses are red ...


To Eva. For keeping me awake until 2a.m. and for letting me know that there is courage and love beyond belief. Sorry to just have known about you now. Your message will pass on. To the blog world for enabling this.



terça-feira, 1 de junho de 2010

Sorry to interrupt...

Ontem apeteceu-me enfiar-me num centro comercial num intervalo do trabalho para respirar a frescura do ar condicionado. Depressa passei revista às montras para me enfiar na Fnac. Parei os olhos no novo livro da Inês Pedrosa tão elogiado na manhã da Antena 1, por um dos jornalistas do Hotel Babilónia. Raptei-o por momentos e acantonei-me no refúgio dos leitores pobres. Já ia na página vinte quando me perguntou:
- Desculpe se a interrompo mas, não acha fantástico estarmos aqui a ler, podendo usufruir momentaneamente dos livros sem dar nada em troca?
Estava todo vestido de branco e tinha um ar estrangeirado. Uns óculos muito escuros na cabeça queimada pela longa ausência de cabelo.
- Sim, é óptimo - disse, imaginando que vinham a caminho umas mariquices para me interromper a leitura lançada.
- Já decidiu se vai levar o livro? - perguntou. - Há livros que valem a pena, outros limitam-se a ocupar espaços.
- Visto nessa perspectiva, sinto que depois de lido, por muito bom que seja, não será retirado da estante para leituras futuras. Ainda estou a decidir.
- Talvez os algarismos na parte de trás a convençam.
- Bem visto - olhei para a contracapa - provavelmente volto na quarta para novo avanço. Sorri.
- Eu tenho centenas de livros espalhados pela vida de outras pessoas. Guardo-os nesta memória de um velho de 85 anos. É o suficiente.
- Bem gostaria de fazer o mesmo. Tenho uma relação de posse com os livros. Poucas coisas me despertam ciúme ou revolta como os meus livros. Empresto mas gosto que regressem às minhas estantes.
- Mais uma vez, desculpe incomodá-la, não queria perturbar a sua leitura mas é que fiquei viúvo recentemente e sabe, tenho-me sentido um pouco sozinho. Tenho saudades de conversar.
Os olhos encheram-se de água e rasgou os lábios com um sorriso de dentes velhos mas persistentes.
- Lamento muito a sua perda - respondi-lhe. (Acho que nunca tinha dito isto de forma tão sentida.)
- Também eu - afirmou, sorrindo uma vez mais.
Falámos do cizentismo dos portugueses, de Nietzsche, de Padre António Vieira, de gargalhadas e de como às vezes é bom falar com estranhos. Chama-se Francisco José e provavelmente nunca mais falarei com ele. Há muito tempo que não me acontecia uma conversa tão boa.