sexta-feira, 31 de outubro de 2008

My left and right feet

Podia escrever um texto sobre "o meu pé esquerdo". É mais gordinho que o direito mas eu sou, como tantos outros, assimétrica e distante do padrão de beleza que se quer certinho. Mas a verdade é que gosto de assimetrias. A rotina, a simetria, a manutenção inalterável do status quo entendia-me, daí que me sinta confortável com a minha "beleza". Chateia-me o número que calço: 34. Ao que parece sou a descendente viva da Cinderela. Não sou muito dada a sapatinhos de cristal mas levo jeito para perder os meus se estes não forem de um modelito seguro, que se enrosca no pé de forma a não o largar mais. Adoro sapatos altos, sexy, abertos... daqueles que podemos atirar para o lado antes de nos atirarmos para a cama. Hoje calcei uns desses. Lindos, clássicos e discretos (sempre com uma pitada de "assimetria")... mas entre o algodão que serve para encher a biqueira e a palmilha que serve para os tornar mais aconchegantes, ainda perco um destes na escadaria do trabalho. A chatice é que sou eu que depois venho a conduzir a abóbora.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Nouvelle Vague

They are back. Again. If you have the chance don't miss them for the world. Superb. This is just an example - "heart of glass"; "don't go"; "dance with me"... so many others.

Humble

Os jovens de hoje desconhecem a nobreza de se ser humilde. Têm pouco na carteira mas muita arrogância no peito e estupidez na conversa. Continuo a acreditar no mesmo. Vem de casa. São poucas as ovelhas tresmalhadas e muitos os rebanhos com pastores de caca. Sou totalmente contra os estalos mas cada vez mais dou razão aos pais que deram aos rebentos um tabefe na altura certa. Este momento serviu para desabafar... hoje o dia não foi fácil. De forma a manter a boa educação e deixar imperar o bom senso, apanha o blog por tabela. Sorry, my virtual friend.
E isto não foi nada... no aconchego do lar só me saem asneiras porcas. As paredes por aqui não têm ouvidos, fortunately.

Infertile

No outro dia achei interessante uma manifestação sobre a vontade de se ter filhos por parte de muitos casais "inférteis" ou com grande dificuldade em tê-los. Desfilaram em frente à Assembleia da República com carrinhos de bebés... vazios. Os tratamentos para tornar as mulheres e os homens mais férteis são demasiado caros para não serem comparticipados pelo estado. As três primeiras tentativas de fertilização in vitro na França são comparticipadas desde os anos 80. Fico logo estarrecida com estas comparações. Estamos a tornar-nos no país mais envelhecido da Europa, mas apenas quando os infantários estiverem às moscas e as escolas cheias de professores desdentados a olhar para cadeiras vazias, o Estado vai talvez, quiçá, eventualmente, ajudar os ventres das Portuguesas a ganharem mais vida, e a vida destas a ganhar mais alento. Quer queiramos quer não, não poder ter filhos deve ser tão doloroso para o homem como para mulher (pelo menos, no caso de quem os deseja) mas a esterilidade na mulher é quase sinónimo de sentença de morte. As outras têm, as outras mulheres podem e eu não, eu não... O "ventre seco" acaba por ser superado, com ajuda, com carinho do companheiro, com uma eventual adopção mas nunca passa a sensação de falha, insucesso. Para quem é importante sentir a bênção e uma dádiva destas, ouvir de um médico "é estéril" deve ser quase como um cancro. Nesta caso não se trata da presença de algo maligno, mas a eterna ausência de algo precioso. Estou solidária com estes casais embora não tenha nenhum carrinho vazio para lhes emprestar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Wild Drivers

Hoje de manhã fui a dormir para o trabalho. Como seria de esperar, as linhas brancas que separam as faixas esfumaram-se e, como o percurso ainda não faz parte do meu organismo, não fui generosa nem previdente, acabando por entupir umas arteriazitas. As mulheres esbracejam e lançam vitupérios a toda a gente. Até vi uma senhora cheia de pressa que parou para descompor um senhor que lhe entupia a faixa. Pergunto-me: conseguiu avançar mais ou perder mais tempo? Ganhou o quê? Resposta: um par de cornos que o educado senhor lhe mandou. Ah, o trânsito matinal! Há momentos em que, apesar das minhas desculpas ensonadas, tenho medo que alguém saia de um veículo em andamento para me partir o vidro com o pé e enfiar o punho no meu novo sorriso. E como me custou os olhos da cara o arranjo deste esmalte, vou ter mais cuidado nas minhas manhãs para não me atravessar no caminho de mais um português tenso de noite mal dormida, ou manhã mal desperta.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

The phenomenon

A minha mãe quer ir à corrida da Mulher Contra o Cancro, na Expo, no dia 9 de Novembro. Acho a atitude louvável, assim como a iniciativa. Venho de uma família cheia de energia, por isso, nada melhor do que queimar algumas calorias. Todavia, eu sei que a minha mãe quer inscrever-se porque ele vai. Ele, o fenómeno. O Tony, o Tony Carreira. Este homem tem mais fãs do que os U2! A pontezinha de madeira da Expo vai abaixo quando o pelotão "tony" passar atracado ao cantor. Eu já perdi a conta à quantidade de bilhetes que comprei na net para concertos do senhor. E nunca fui a nenhum.
Quem sabe, a título de estudo sociológico, não me aventuro pelas multidões perfumadas, de vozes límpidas e peito farto, e fico-me a olhar e a ouvir "o menino da aldeia". Na realidade tenho medo. Tenho medo de gostar tanto dele que depois me sinta impelida a segui-lo até ao fim do mundo. Nunca devemos subestimar estes fenómenos. Elas regressam dos concertos muito felizes, com a alma leve e o coração cheio.
A única coisa que me levará a inscrever numa corrida, em princípio sobre uma ponte, uma vez mais, é poder estar ao lado do Primeiro. Para me encostar ao Primeiro. Para derrubar o Primeiro. Para ver a queda no Tejo e sonhar com um futuro brilhante. Mas enquanto isso não acontece, sou capaz de ir a um concerto para fingir que está tudo bem. Mas Tony ainda não. Não estou preparada. Sigur Rós, maybe.

domingo, 19 de outubro de 2008

Lisbon's DocFest

Com uma excelente programação, da qual se destacam os documentários do Wiseman (os de há muito e os mais recentes) e a temática das novas famílias e das identidades em conflito, o doclisboa é como uma mulher sedutora que escolhe um decote generoso e uma saia que convida ao bambalear do corpo e ao aumentar do desejo. A grande porcaria é que não é papável por qualquer um. E é assim. Não consigo "papar" tanta coisa boa. A não ser que me balde ao trabalho... humm...
NOTA: desculpem-me ignorar o corpo masculino, mas enfim, apesar de fabulosos e desejáveis, vocês, homens, quando se bambaleiam demasiado jogam sempre na equipa contrária. O corpo feminino reúne o consenso de ambos os géneros.

One of my favourite

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo
Zangam-nos contra a vida
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.

Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.

Álvaro de Campos

domingo, 12 de outubro de 2008

I want to get married


Vamos imaginar que nunca passei pela experiência encantadora e profundamente ilusória do matrimónio. Vamos fingir que adorava vestir-me de noiva (deve ter sido das poucas vezes em que me senti verdadeiramente especial, desculpem-me a franqueza.) Vamos supor que quero convidar os meus amigos e amigas para testemunhar o meu voto de compreensão e amor eternos, no civil claro, porque a Igreja mete-me medo. Vamos conceber que os anos de convivência, partilha, sorrisos são prova de que algo bom foi construído por duas pessoas que estabeleceram laços para a vida e que agora os querem ver oficializados. Vamos imaginar que a minha namorada quer o mesmo. E agora - imaginando que sou homossexual - imaginemos que não posso fazer nada disto porque gosto de mamas e rabos femininos. O Estado nada tem a ver com o que faço com o meu corpo, as minhas mãos, a minha boca. Quem eu toco, quem eu beijo, a quem dou prazer, quem me dá prazer. Uns não são mais e outros menos. Que pensarão os gregos, para quem a homossexualidade masculina era sinónimo de admiração e grandeza do ente amado, que deram corpo à ideia desta democracia? This wasn't supposed to turn out this way, was it? (Mas em grego, claro).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

"Want to speak your language"


Isto é o que se chama uma compositora e escritora.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Perfect relationships

A vida tem-me dado a conhecer algumas coisas dispensáveis, como a mesquinhez e crueldade humanas, mas também me tem ensinado algumas verdades absolutas. Uma delas é a impossibilidade na obtenção de relações perfeitas. There is no such thing as a perfect relationship. Os casais que eu considerava serem perfeitos, são-no meramente porque nos encontramos divididos por uma mesa de restaurante e pelas convenções do social. Quando entramos na intimidade do casal, ou uma das partes decide partilhar connosco as suas angústias, apercebemo-nos que as relações perduram em função das concessões que as partes estão dispostas a fazer, ou na similitude existente entre elas. Passo a explicar: quando achamos que os nossos pais têm um relacionamento perfeito, não conhecemos o nosso pai ou mãe na crueza e egoísmo da sua juventude. Talvez por isso mesmo as concessões tenham sido fáceis de fazer e o temperamento fácil de moldar. O "eu" era muito fresquinho não só para ter o egoísmo vincado como também para fechar portas ao altruísmo. Hoje, eles são outros, porque a vida os educou juntos, e os preparou para a constante presença do outro. Até o sofrimento passou a ser um dado adquirido.
Todavia, pode também dar-se o caso de as duas partes do casal terem as mesmas preferências e gostarem da "fazer as mesmas coisas" juntos. Como os amigos fazem só que este tem o bónus do sexo. Não há que fazer muita concessão porque encontramos um par que partilha dos mesmos interesses. "Os opostos só se atraem" para as aventuras fugazes, para os affairs clandestinos, porque ninguém se imagina casado e a ressonar ao lado do "oposto". O "oposto" é alguém com quem nos envolvemos mas com quem não convivemos.
Na generalidade, as relações atingem momentos de serenidade, rotina, quente e frio mas nunca são perfeitas. Não são relações sanguíneas. São negócios de compra e venda onde algumas delas até envolvem dinheiro "Gostaste do anel que te comprei querida?" "Adorei. Até comprei uma lingerie sexy. Hoje tens direito a tudo!".
O problema destes "negócios" advém de estarmos perante uma relação homem-mulher (falo da que conheço, embora o feedback que obtenho das relações homossexuais não seja muito diferente) e as partes envolvidas, sendo diferentes como são, quererão coisas diferentes. As mulheres querem afectos, reconhecimento, compensações. Os homens não acreditam que seja algo imperativo porque se a outra parte do negócio não se queixa, corre tudo sobre rodas. Os homens, como seres machos e com a herança da individualidade e independência que a sociedade lhes deixou, são naturalmente egoístas. As mulheres, infelizmente dotadas de ovários, foram abençoadas com o dom do altruísmo. A não ser que haja muita paciência de parte a parte, ou então, muito racionalmente, uma troca financeira, os negócios tenderão a falir. As relações perfeitas são uma utopia e, à medida que a sociedade torna as mulheres cada vez mais masculinas na forma de agir, as partes deixarão de se moldar e adaptar porque o seu umbigo roubou o lugar ao coração.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sadness

Today I was taken by an infinite and hopeless sadness which comes from I don't know where and which can be solved I don't know how... It's as if I am submerged in an icy lake desperately gasping for the surface.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

It's there but it doesn't show

Should a student be accessed on account of what he appears to know or what he proves to know? Life cannot lie on first impressions for ever. It's like a science. Facts and proofs are permanent. All the rest might be a mistake.

"True Love"

True Love

True love. Is it normal
is it serious, is it practical?
What does the world get from two people
who exist in a world of their own?
Placed on the same pedestal for no good reason,
drawn randomly from millions but convinced
it had to happen this way - in reward for what?
For nothing.
The light descends from nowhere.
Why on these two and not on others?
Doesn't this outrage justice? Yes it does.
Doesn't it disrupt our painstakingly erected principles,
and cast the moral from the peak? Yes on both accounts.
Look at the happy couple.
Couldn't they at least try to hide it,
fake a little depression for their friends' sake?
Listen to them laughing - its an insult.
The language they use - deceptively clear.
And their little celebrations, rituals,
the elaborate mutual routines -
it's obviously a plot behind the human race's back!
It's hard even to guess how far things might go
if people start to follow their example.
What could religion and poetry count on?
What would be remembered? What renounced?
Who'd want to stay within bounds?
True love. Is it really necessary?
Tact and common sense tell us to pass over it in silence,
like a scandal in Life's highest circles.
Perfectly good children are born without its help.
It couldn't populate the planet in a million years,
it comes along so rarely.
Let the people who never find true love
keep saying that there's no such thing.
Their faith will make it easier for them to live and die.
--
Wislawa Szymborska

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Grey hair

Quando me arrancaram o primeiro cabelo branco aos 24 anos, estava longe de acreditar que "por cada um que arrancares, nascerão sete". Aparentemente, nascem gerações e gerações infinitas de clones branquinhos que povoam as cabeças nas zonas mais ou menos expostas. Infelizmente, os meus gostam de dar nas vistas. Eu, pobre coitada, vaidosa sim mas sem grande paciência para manicures, cabeleireiros e estranhos a mexerem-me nos pezinhos, deparo-me com o dilema de "pintar ou não pintar" o fraco couro cabeludo que herdei. Este exibicionismo de pureza ao lado dos meus olhos, muito escuros, envelhece-me a alma e, pior que tudo, faz-me mesmo parecer mais velha. Com tanto relatório, acta e matriz com que me entreter, tenho agora que empreender uma luta com o tempo que, certo está, irei perder certamente. Mas o último a rir é quem ri melhor e nem que tenha que os rapar ou voltar aos tempos de Maria-Rapaz, hei-de vencer estes palerminhas que insistem em povoar o meu lindo "casco".