No outro dia achei interessante uma manifestação sobre a vontade de se ter filhos por parte de muitos casais "inférteis" ou com grande dificuldade em tê-los. Desfilaram em frente à Assembleia da República com carrinhos de bebés... vazios. Os tratamentos para tornar as mulheres e os homens mais férteis são demasiado caros para não serem comparticipados pelo estado. As três primeiras tentativas de fertilização in vitro na França são comparticipadas desde os anos 80. Fico logo estarrecida com estas comparações. Estamos a tornar-nos no país mais envelhecido da Europa, mas apenas quando os infantários estiverem às moscas e as escolas cheias de professores desdentados a olhar para cadeiras vazias, o Estado vai talvez, quiçá, eventualmente, ajudar os ventres das Portuguesas a ganharem mais vida, e a vida destas a ganhar mais alento. Quer queiramos quer não, não poder ter filhos deve ser tão doloroso para o homem como para mulher (pelo menos, no caso de quem os deseja) mas a esterilidade na mulher é quase sinónimo de sentença de morte. As outras têm, as outras mulheres podem e eu não, eu não... O "ventre seco" acaba por ser superado, com ajuda, com carinho do companheiro, com uma eventual adopção mas nunca passa a sensação de falha, insucesso. Para quem é importante sentir a bênção e uma dádiva destas, ouvir de um médico "é estéril" deve ser quase como um cancro. Nesta caso não se trata da presença de algo maligno, mas a eterna ausência de algo precioso. Estou solidária com estes casais embora não tenha nenhum carrinho vazio para lhes emprestar.
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