Hoje de manhã fui a dormir para o trabalho. Como seria de esperar, as linhas brancas que separam as faixas esfumaram-se e, como o percurso ainda não faz parte do meu organismo, não fui generosa nem previdente, acabando por entupir umas arteriazitas. As mulheres esbracejam e lançam vitupérios a toda a gente. Até vi uma senhora cheia de pressa que parou para descompor um senhor que lhe entupia a faixa. Pergunto-me: conseguiu avançar mais ou perder mais tempo? Ganhou o quê? Resposta: um par de cornos que o educado senhor lhe mandou. Ah, o trânsito matinal! Há momentos em que, apesar das minhas desculpas ensonadas, tenho medo que alguém saia de um veículo em andamento para me partir o vidro com o pé e enfiar o punho no meu novo sorriso. E como me custou os olhos da cara o arranjo deste esmalte, vou ter mais cuidado nas minhas manhãs para não me atravessar no caminho de mais um português tenso de noite mal dormida, ou manhã mal desperta.
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