quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Perfect relationships

A vida tem-me dado a conhecer algumas coisas dispensáveis, como a mesquinhez e crueldade humanas, mas também me tem ensinado algumas verdades absolutas. Uma delas é a impossibilidade na obtenção de relações perfeitas. There is no such thing as a perfect relationship. Os casais que eu considerava serem perfeitos, são-no meramente porque nos encontramos divididos por uma mesa de restaurante e pelas convenções do social. Quando entramos na intimidade do casal, ou uma das partes decide partilhar connosco as suas angústias, apercebemo-nos que as relações perduram em função das concessões que as partes estão dispostas a fazer, ou na similitude existente entre elas. Passo a explicar: quando achamos que os nossos pais têm um relacionamento perfeito, não conhecemos o nosso pai ou mãe na crueza e egoísmo da sua juventude. Talvez por isso mesmo as concessões tenham sido fáceis de fazer e o temperamento fácil de moldar. O "eu" era muito fresquinho não só para ter o egoísmo vincado como também para fechar portas ao altruísmo. Hoje, eles são outros, porque a vida os educou juntos, e os preparou para a constante presença do outro. Até o sofrimento passou a ser um dado adquirido.
Todavia, pode também dar-se o caso de as duas partes do casal terem as mesmas preferências e gostarem da "fazer as mesmas coisas" juntos. Como os amigos fazem só que este tem o bónus do sexo. Não há que fazer muita concessão porque encontramos um par que partilha dos mesmos interesses. "Os opostos só se atraem" para as aventuras fugazes, para os affairs clandestinos, porque ninguém se imagina casado e a ressonar ao lado do "oposto". O "oposto" é alguém com quem nos envolvemos mas com quem não convivemos.
Na generalidade, as relações atingem momentos de serenidade, rotina, quente e frio mas nunca são perfeitas. Não são relações sanguíneas. São negócios de compra e venda onde algumas delas até envolvem dinheiro "Gostaste do anel que te comprei querida?" "Adorei. Até comprei uma lingerie sexy. Hoje tens direito a tudo!".
O problema destes "negócios" advém de estarmos perante uma relação homem-mulher (falo da que conheço, embora o feedback que obtenho das relações homossexuais não seja muito diferente) e as partes envolvidas, sendo diferentes como são, quererão coisas diferentes. As mulheres querem afectos, reconhecimento, compensações. Os homens não acreditam que seja algo imperativo porque se a outra parte do negócio não se queixa, corre tudo sobre rodas. Os homens, como seres machos e com a herança da individualidade e independência que a sociedade lhes deixou, são naturalmente egoístas. As mulheres, infelizmente dotadas de ovários, foram abençoadas com o dom do altruísmo. A não ser que haja muita paciência de parte a parte, ou então, muito racionalmente, uma troca financeira, os negócios tenderão a falir. As relações perfeitas são uma utopia e, à medida que a sociedade torna as mulheres cada vez mais masculinas na forma de agir, as partes deixarão de se moldar e adaptar porque o seu umbigo roubou o lugar ao coração.

4 comentários:

Bruno Miguel Pinto disse...

Os meus parabéns por este texto. Também acho que "there is no such thing as a perfect relationship", mas o que é que é perfeito de relações entre pessoas? Ou que obra feita pelo Homem é absolutamente perfeita? Quanto a mim, a questão que se põe é que uma relação amorosa não seja muito imperfeita. Da imperfeição, não nos livramos, só precisamos de saber lidar bem com ela...

Cassandra disse...

Obrigada. Há que saber lidar com a imperfeição. Concordo. Mas será que a nossa imperfeição suporta a de outrém? É uma pescadinha de rabo na boca...

Anónimo disse...

"Os homens, como seres machos e com a herança da individualidade e independência que a sociedade lhes deixou, são naturalmente egoístas."

Não posso discordar mais. Isto é uma opinião marcadamente sexista. São muitos os homens que diriam exactamente o contrário.

Cassandra disse...

Anónimo:
acredito que sim. Há sempre quem tente imbuir-se de maior sensibilidade ou quem tenha uma educação diferente. Como todas as generalizações, esta tem os seus perigos.