terça-feira, 26 de abril de 2011

Old photographs

I have always been a sucker for old photographs. No domingo à noite, aquando uma caminhada pós-café, descobrimos um monte de móveis velhos, descoroçoados, desfeitos, poltronas rasgadas com tecido datado do Estado Novo. Uma gaveta jazia pendurada entre o mobiliário e uma caixa expunha à luz do candeeeiro fotografias velhas. Comecei imediatamente a juntá-las, a revirá-las cuidadosamente para encontrar letrinhas e dedicatórias no verso. Não ousei lê-las, tendo-me perdido apenas em duas ou três imagens: duas jovens embrenhadas em livros, uma delas com um cabelo crespo e com sardas nas bochechas e uma outra, duas crianças a andar de bicicleta numa praia, ou um local à beira-mar, difícil de precisar. Eram loiros e de pele clara e tinham uma pose de colégio interno. Apesar disso, os calções dele e o vestido dela indiciavam o ar ameno que lhes beijava as peles delicadas.
- O que vais fazer com elas?
- Não sei... mas não se deitam memórias assim fora. As fotografias são parte da vida de uma pessoa.
- Provavelmente foram deitadas fora por isso mesmo. Será uma parte da vida de que alguém se quer esquecer.
- Sim, fará sentido num divórcio, fotografias velhas de amores cheios de traça e angústia. Mas não com fotos de férias, infâncias felizes.
- E como irias encontrar o respectivo dono, caso decidisses fazê-lo?
- Digitalizaria uma e colocá-la-ia no Facebook. Alguém haveria de se acusar.
- Sim, ou de ficar furioso com a tua iniciativa.
- Pois... terás alguma razão. Mas custa-me deixá-las assim, como se deitássemos fora uma vida e nós fôssemos cúmplices.
Caminhámos a passos descansados.
- Custa-me que ao ser tão racional tu percas a tua espontaneidade.
E ali ficámos a decidir se voltávamos ao monte de fotos velhas ou regressávamos a casa.