Por muito que gostemos da nossa companhia, ela acaba por se tornar entediante ao fim de alguns anos, especialmente se não tivermos com quem aliviar o fardo da solidão. Tenho colegas sós. Vê-se que estão sós. Os olhos que anseiam por conversa banal. Por algo mais do que um bom dia. Há alturas em que nem queremos que nos dirijam a palavra. Estas pessoas, pelo contrário, estão cansadas de ser invisíveis. Sente-se esse desespero lá dentro, amorfanhado na garganta mas evidente no olhar.
Podemos tentar imaginar... Estas pessoas vivem sozinhas, comem congelados em frente ao televisor a fazem zapping. Ou alugam filmes. Aos dois e três para o fim-de-semana inteiro. Ao conviverem tanto consigo mesmas, foram matando a sua bicha solitária com comida e docinhos, para satisfazer a carência que se infiltra no vazio. Não gostam da sua imagem. Disfarçam-na com cores isentas, mortiças, banais. Adoptaram outros recursos para se enquadrarem socialmente, as armas do desespero: uma rigidez e rigor implacáveis, a roçar o ridículo; um sentido de humor totalmente fora de tempo; uma simpatia excessiva, a tender para a patetice.
Todos podemos ser pessoas assim. Ou não. Basta que tenhamos sorte e alguma coisa nos corra bem: podemos ter piada, ser giros, ter carisma, presença, inteligência... tanta coisa. Algo nos desviou do caminho da solidão tenebrosa que deve tornar os dias destes meus colegas incrivelmente chatos, e, acima de tudo, profundamente tristes.
Não devia ter pena. Não devia, mas tenho. Porque ser amado, desejado, querido, estimado é tão insubstituível quanto essencial para esboçar um sorriso natural. Sinto-me uma privilegiada, como muitos o serão, porque sempre que lhes sorrio o bom dia, sorrio com vontade. Eles também sorriem de volta. Sempre educados. Mas nunca é aberto, sincero e feliz. É um sorriso de circunstância, calejado pelo hábito mas habitado por uma profunda solidão de viverem consigo e só para si.
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