quarta-feira, 9 de julho de 2008

I know less than a 10 year-old

O programa que anima o serão das noites de Verão tem o condão de humilhar todos os adultos que se sujeitam a testar os conhecimentos há muito aprendidos e, em muitos casos, logo esquecidos. Ontem, ao jantar, estávamos solidários com as pessoas que ficavam pelo caminho sem sequer ter hipótese de caminhar um bocadinho:
-Então - perguntava o Jorge Gabriel - as ervilhas e as favas são alimentos energéticos, reguladores ou construtores?
- Reguladores (acho eu) - arrisca a senhora.
- Oh, minha amiga. A sua resposta está errada! OOHHHHHH. Então não sabia que as favas e as ervilhas são energéticas??!!!!! Vá, agora vire-se para Portugal inteiro e diga... (o que já sabemos).
Tanto eu como o Vitor estávamos há muito esquecidos das principais características dos alimentos. Gostamos muito de favas mas as ervilhas causam-me obstipação. O que me deixa o cérebro obstipado neste programa são outras coisas:
  • A formulação errada de grande parte das questões - pouco clara, com termos retirados dos novos programas (não era assim no nosso tempo) e uma sintaxe que induz em erro;
  • A turma tão arranjadinha e limpinha e elitista que é representativa da maioria das escolas portuguesas. O que é feito dos meninos ciganos, dos pretos, dos mestiços, dos emigrantes de leste, dos brasileiros, dos chineses, do pessoal das hortas, dos filhos dos pescadores? De todas as outras classes que vão à escola pública, no fundo. Humm, I wonder... Provavelmente estes meninos são todos de colégios privados, os pais têm todos uma casa de férias e dois carros topo de gama. (Mas isto sou eu a divagar. Posso estar completamente errada.)
  • O apresentador tão conhecedor de todas as matérias, com uma capacidade oratória invejável, bem como uma argumentação irrefutável. O que me enoja mais e me deixa à beira do vómito são as perguntas entoadas de sarcamo e incredulidade: "Então não sabia que as favas e as ervilhas eram alimentos energéticos?!" Como se todos estes conhecimentos fizessem parte do senso comum, e, o que é pior, do senso comum do próprio. Diga-se em abono da verdade, se o Sr. Jorge Gabriel subisse ao palanque, saberia muito mais que um miúdo de 10 anos. Eu apostava nos 12.
  • Os momentos felizes que os miúdos devem ter em casa, perante a ignorância paterna. As criancinhas já são uns ditadores de palmo e meio, cheios de direitos mas ausentes de deveres... como se isso não fosse suficiente, ainda podem ter o gozo de serem mais inteligentes que os progenitores.

É evidente que o programa também tem coisas boas. Todavia, essas não saltam tanto à vista e não me apaziguam a vertente pedagógica. Eu gosto de pedagogia mas não em doses que aniquilam a formação humana e o respeito pelos mais velhos.


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