Não gosto de velórios. Pelas razões óbvias da perda e sofrimento inerente à mesma. Todavia, o que me irrita verdadeiramente é a conversa de fundo, de quem está cansado de velar um corpo que não lhe faz falta em casa, que já chorou a sua parte quando prestou as condolências à família e agora está sentadinho para pôr a conversa em dia.
Seria mais prático, objectivo e feliz para quem deixou o mundo dos vivos que a sua memória fosse lembrada entre risos, abraços e relatos de histórias passadas, assim como fazem os americanos. Dispensaria a parte da comida. Mas a bebida devia ser obrigatória. Enfim, seria menos medieval e penoso.
Já começo a ir a demasiados funerais de amigos dos meus pais. Esta inevitabilidade do tempo angustia-me muito. Curiosamente, horas mais tarde, só me apetece sair e dançar. Celebrar a vida e os que me rodeiam em vida. Sou uma privilegiada. Não perdi ninguém que me é próximo e já passei os 30. Hoje, a dor da minha amiga de infância, que perdeu a mãe, é irreparável. Apesar dos pesares, perdemos a nossa ligação umbilical. Apesar de ter construído uma família linda, ter dois filhos adoráveis e um marido que é um verdadeiro companheiro e isto a poder ajudar nos dias que virão, fica ali uma ferida aberta. Uma dor imensa que nos desampara para o resto da vida. Até que alguém nos chore da mesma forma e se agarre ao nosso corpo frio e hirto quando enterramos a ferida connosco.
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