Encontrei numa revista um excerto das memórias da mulher de Junot (general que comandou uma das invasões francesas - acho que foi a segunda, 1809, mas a memória da história de 7º ano já se perdeu faz tempo). A senhora chamava-se Laure e era a duquesa de Abrantes. Deu mostras de uma sapiência rara e de um olhar perspicaz, capaz de trespassar analiticamente a imagem de um Portugal em finais do século XIX. O excerto em questão reza o seguinte:
"A nobreza, salvo algumas excepções perfeitamente honrosas (...), é inteiramente degenerada. Mas o povo dos campos, que é preciso não confundir com o das cidades de Portugal, é ainda muito bom de coração, e poderia tornar-se uma nação, se os frades e os padres, ao usarem do seu derradeiro momento de poder, não dessem cabo do que resta de grande e generoso naquela nação."
Ora bem, trocamos a nobreza pela classe alta associada ao novo-riquismo da burguesia; a igreja pode ficar (embora já não usufrua nem do poder de outrora nem o conjugue com uma cega obediência do rebanho cada vez mais diminuto); para finalizar, podemos imaginar que os políticos actuais vieram substituir um D. João VI pouco dado a confrontos directos, que foge com o "grande traseiro à seringa" (é melhor confirmar esta descrição avantajada nos retratos da época). Depois de termos substituído os intervenientes da conjuntura portuguesa de há dois séculos, podemos ver que o quadro sofreu alterações "significativas": a saber, os ingleses já não estão em Lisboa (mudaram-se para Cascais e para o Algarve) e... o resto está igual! Valha-nos o bom povo que continua o mesmo coitado, explorado, deplorável, mas humilde e de bom coração. Só mesmo uns palermas como nós é que aguentamos o estado desta nação.
Rertorne Napoleon, nós ôtres te perdonés!
Sem comentários:
Enviar um comentário