terça-feira, 11 de março de 2008

Carjacking

A expressão é nova e interessante mas bem conhecida dos portugueses já que enche as aberturas dos noticiários assim como os debates sobre a violência.
Matam muita gente perto do bairro onde trabalho. Várias mulheres dão entrada nas urgências porque têm maridos demasiado inibidos. Como não conseguem expressar verbalmente o que sentem ("amo-te" não é fácil de dizer... tem muitas sílabas), partem-lhes os braços, por vezes as pernas e, quase sempre alguns dentes. Mas devem amá-las, porque estas aceitam-nos de volta para o segundo round. Mas a violência doméstica faz parte integrante da cultura do país. O carjacking é uma novidade cool.
Carjacking passou a ser importante porque no próprio conceito se insere o roubo de carros de grande potência e marcas caras. Logo, são os ricos e bonitos que são violentamente assaltados e, infelizmente, mortos sem qualquer razão. Isto não podia ser melhor notícia. Infelizmente, as cadeias televisivas têm noção de que ser bonito, rico e bem sucedido ganha a empatia do público. "Tinha um ar tão limpinho, foram matá-lo porquê?!" Isto em Portugal vê-se tudo pela roupa e aspecto que temos, por isso, se eu decidir traficar droga mas continuar a vestir-me como uma professora tacanha e provinciana... posso mudar-me para um condomínio de luxo!
Os coitados que levam no coiro forte e feio, os miúdos que passam fome, as crianças institucionalizadas sem eira nem beira, sem pais e alvos fáceis para os abusadores sexuais, todos eles o público esquece depressa. Não têm famílias exemplares, não têm dinheiro para advogados, não são bonitos, faltam-lhes os dentes da frente... não pomos na capa. Passa à frente.
É óbvio que é lamentável a onda de violência que grassa neste país. Estou solidária com as famílias que perdem os seus entes queridos, vistam eles o que vestirem. Quero apenas destacar que a violência da "derme" esteve e está lá sempre. No sítio do costume (não é no Pingo Doce). Que comece a alastrar para a "epiderme" - outrora segura, distante, um autêntico shangri-la - já o caso muda de figura. A verdade é que ninguém procurou combater a doença no seu início, nos focos de onde emana... agora, é um alastrar natural, como em toda a violência mundial.
Se carjacking fosse o mesmo que hijacking, os "piratas" do carro levavam-no apenas para transportar algo, ou alguém - é para isso que os piratas do ar desviam os aviões: por causas maiores, defesas de nações, revindicações políticas ou lutas religiosas ridículas, como por exemplo, o combate ao infiel através da morte de inocentes (gentalha esperta! Diz que é a mando de Alá mas querem é aparecer na TV. Podiam fazer um Big Brother para estes "rebentos". Podia intitular-se "Quem rebenta primeiro?". Ao invés de serem os primeiros a sair, seriam os primeiros a "encontrar as 17 Virgens" (já não podia ser a Teresa Guilherme a apresentar a coisa)).
Os ladrões de carjacking podiam "pedir os carros emprestados" para levar a avó às urgências mais próximas, já que a proximidade das urgências deixou de ser uma realidade. Faria sentido. Seria justificável. Mas se eles não tencionam devolver o produto, não querem reféns, matam-nos logo e vão, provavelmente, despachar o produto de forma a obter dinheiro para uma nova dose... why the hell is it CARJACKING?
Seja como fôr, o que eu quero transmitir com este longo texto, pleno de excursos, é: não comprem carros topos de gama e não deixem que as pessoas mais importantes ignorem o que sentem por elas. No meu caso, apenas uma numerosa família de ciganos cobiçaria a minha monovolume para estar presente num qualquer casamento em Espanha. Ainda assim, amo-te muito.

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