domingo, 28 de fevereiro de 2010

A single man


Um filme genuinamente belo. Um quadro pulsante de cor e design. Uma sessão fotográfica em movimento. Uma procura incessante de ângulos certos. Um zoom de bocas, olhos, rabos. Uma escolha fabulosa de objectos e de época.

Este filme é uma novidade cinematográfica. Uma homenagem à imagem e ao olho perfeito do designer Tom Ford. Todavia, ignoraria a componente narrativa se reduzisse esta breve epifania à sua mera beleza visual (e auditiva, que a banda sonora só a engrandece). Fez-me lembrar Ulisses de James Joyce. Um simples dia na vida de um homem que, em momento algum, se torna enfadonho ou penoso para o espectador. Os vários planos dos relógios agigantam a dor do protagonista e preparam-nos para um final aparentemente inevitável. Mas é só aparentemente, porque as várias circunstâncias e os elementos em torno do homem vão delineando uma outra história... ou não.

Ficamos expectantes e deliciados. Somos manobrados com requinte, pormenor e sofisticação. Adoro quando um cineasta faz isto. Tudo isto ao mesmo tempo que me conta uma história de amor. Ninguém resiste a uma história de amor. Principalmente tão bem pintada. Sem excessos. Sem defeitos. Simplesmente perfeita. Como se não bastasse, está cheia de pessoas belas. De embalagens belas, sem que a beleza queira dizer muito perante as lembranças do passado.

Quanto à interpretação de Colin Firth - 5 estrelas. Já o disse anteriormente mas reafirmo. O que um actor transmite em silêncio é demasiado difícil para estar ao alcance de todos. O embaraço e a angústia saem tão naturalmente dos olhos deste actor que me esqueci de todas as comédias românticas que já fez. A não perder. A ignorar pelos/as homofóbicos/as e/ ou sem sentido estético because it might not be understood. It just might.

4 comentários:

J. Maldonado disse...

Fiquei abismaravilhado com a tua crítica.
Já ouvi falar desse filme, e agora, graças a este post, fico mais motivado para ir vê-lo.

via disse...

Também gostei, do sentido estético, da atenção às atmosferas, da interpretação do Colin e de uma intensidade/poder da imagem sobre tudo o resto. Boas fitas! (nós só divergimos quando se trata de franceses!)bjo -boa semana.

Cassandra disse...

Maldonado: és generoso em hipérboles. Vou começar a pedir uma comissão aos distribuidores dos filmes, já que motivo outros para vê-los. Estou certa que vais gostar.

Via: concordo com tudo. Sim, quanto aos franceses... enfim, sou muito mais anglófona. Mas adoro ouvir-te fizer Sean Penn;))). Almoçamos terça? Beijinhos e boa semana.

Cassandra disse...

* dizer "Sean Penn" dizer:)))