Eu - E então ela vestiu exactamente o que não devia para um primeiro encontro: uma blusa comprida que lhe escondia as curvas, com estampados mortiços lembrando os festivais de paz e amor, com uma longa camisola de licra branca, que enrolava os seios fartos como crepe chinês. A rematar, umas calças rosa-bebé com bainhas enroladas para fora... Ele estava impecável e, claro, ficou imediatamente relutante. Acho que foram as calcinhas enroladas, honestamente.
Ela - Uma mulher não pode esconder aquilo que ela é. Coitada da rapariga! Ele tem mais é que a aceitar na plenitude da sua personalidade caso contrário não a merece.
Eu - ... Vives em que planeta?!
Descobri hoje que as mulheres ainda sonham. Sonham com homens atenciosos, carinhosos, que as façam rir, que lhes afaguem os cabelos, que lhes cozinhem pratos gourmet, que oiçam as suas queixas diárias, que lhes digam que elas são maravilhosas e lindas, apesar dos olhos papudos e dos cabelos brancos a envelhecerem-lhes as frontes. A maioria das mulheres que habita este universo onírico está sozinha. Por acaso, por acidente, porque escolheram o caminho da esquerda com medo daquilo a que o da direita levaria. Acreditam que o amor virá resgatá-las do seu palácio empedernido e gasto, com promessas de fidelidade eterna e de cumplicidade imediata. Entretanto, enquanto o cavaleiro não se põe a caminho, deixam-se estar, assim, bafientas nos seus modos e trajes, falando de trabalho e de coisas comezinhas, donas de uma inocência tardia e de um recato despropositado. Mas bem lá no fundo sonham. Anseiam por quem lhes mude os hábitos e ponha fim à sua deriva. E assim vão ficando. À espera...
E nenhuma delas pega na porra de um remo para seguir viagem!
3 comentários:
Tão absolutamente lúcido este texto...
Apesar de tudo, ainda sonho. De forma muito diferente, já que rumo em direcção ao oásis que procuro.
convite para seguir a história de Alice, lá no
--- continuando assim... ---
bj
bom fim de semana
teresa
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