segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Idols or why would I like to be Manuel

Há uns anos, quando era muito lírica e idealista, quando achava que podia corrigir a maldade dos outros e racionalizar a inveja do vizinho, achava o programa Ídolos um verdadeiro disparate. Acima de tudo, custava-me muito olhar para aquelas criaturas indefesas que eram publicamente humilhadas, acabando por servir de entretenimento a famílias inteiras por esse Portugal fora. Até mesmo às suas, que há quem se ria dos seus próprios genes. Reivindicava justiça. Não entendia como isto podia ser entretenimento. Hoje, agora que sou mais burgessa e insensível, farto-me de rir com o programa. O que mudou? Bem, primeiro que tudo a minha ilusão e segundo, apercebi-me da representatividade sociológica dos cromos. A inteligência passou a ser categorizada: há a emocional, a espacial (bato com o dedo mindinho nos móveis, esta não tenho. Burra), a musical, etc e tal e coisa. Uma verdade absoluta é que todos somos capazes de chegar muito longe. Todos somos inteligentes. Ai de quem decida retirar aos jovens de hoje esta crença. A humildade, infelizmente, na minha perspectiva boçal, tem os dias contados. Desta forma, cremos todos na grandeza que temos sem que tenhamos dado provas ou feito qualquer esforço para obtê-la. Logo, é perfeitamente lógico que saibamos cantar. Logo, toca de arriscar porque acreditamos no nosso inner hidden talent. Somos todos tão talentosos quanto inteligentes. TODOS. Basta querer. Hoje em dia é tudo tão fácil e absolutamente garantido que não há especialistas. Há pessoas que insistem que sabem mas ignoram que TODA A GENTE é entendida em QUALQUER matéria.
Por isso, quando vejo o Manuel grunhir para uma qualquer croma que esteve a madrugada toda ao frio por se julgar quase tão boa como a Beyoncé "Não cantas a ponta de um corno", rio, rio muito. Só tenho pena de não poder exercer essa autoridade déspota no meu trabalho "Não fazes a ponta dum corno, pá! Julgas que vais passar? Faz-te mas é à vida que tens idade para isso... Calão."

7 comentários:

via disse...

acertada reflexão, estas manias de tudo poder bastando querer são completamente idiotas ( culpa daquele livrito, o segredo...literatura light) gente que facilmente esquece e não quer ver o óbvio, que não basta querer e que não somos todos génios!!bjo

Cassandra disse...

Eu sei mesmo que nada sei. E se há coisa que não sei é cantar...Quando o faço, fecho os vidros e poupo aos outros automobilistas a miséria:) Bjs.

Gilinho disse...

Quer dizer... às vezes cantas perto de mim... e eu até gosto! ;-)
Relativamente à critica, não podia estar mais de acordo. Nem todos podemos ser "Einsteins"... temos de assumir as nossas limitações e viver com elas. Esta mania que temos de trabalhar para as estatísiticas (regras impostas por seres teoricamente pensantes) deixa-me "doido".

Bj., V.

Cassandra disse...

Tu gostas? eheh, agora é que vou dar largas à Maria Callas que tenho a palpitar na garganta! :) Bj. gd.

J. Maldonado disse...

1. A popularidade resultante dum marketing agressivo induz a esse preconceito segundo o qual toda a gente é talentosa.

2. Se pudesses ser para com os teus alunos como aquele gajo dos ídolos, terias que andar com um colete anti-bala... :))

Cassandra disse...

Não sei se é um marketing agressivo, honestamente. Nas escolas nem há necessidade de marketing e o discurso é semelhante. Apenas não podemos ser realistas, sob pena de a Comunidade Europeia não nos subsidiar como povo inteligente que somos. Se fosse realista talvez não precisasse de um colete à prova de bala. Umas "chicotadas" nunca mataram ninguém:)) Acho que até me agradeceriam.

J. Maldonado disse...

1. Mais uma vez a tua caustica ironia no seu melhor...
Qualquer dia os teus fãs fundam um culto em torno dela... :))

2. Depende de como são dadas as chicotadas. É que nem toda a gente aprecia BDSM...