terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mummy hates daddy

Ontem, numa reportagem da SIC, um pai lamentava os longos anos afastado dos seus filhos. Uma distância imposta pelo outro cônjuge. Perdeu o emprego porque a tristeza se instalou na sua forma de estar. Os dois rapazes eram duas botijas de oxigénio que o ligavam ao mundo. Procurou voltar a respirar. Entretanto casou mas continua a sofrer. A ex-mulher é exímia no chorrilho de acusações, na listagem de incumprimentos, no afastamento (a seu ver) absolutamente intencional e irresponsável do ex-marido. A educadora de infância dos miúdos conhecia os dois. Tomou o partido do pai. Eu não percebo muito de pessoas, mas o olhar doce do homem que continuou a procurar dar pensão de alimentos aos seus filhos ainda que desempregado e o frenesim destrutivo da mãe que sempre quis aumentar essa pensão (independentemente das condições financeiras do ex-marido), acusando também a nova madrasta de bater nos seus filhos... enfim, soa-me a discurso de mulher abandonada.
Esta síndrome chama-se "Alienação parental". É geralmente levada a cabo pelas mulheres mas não necessariamente assim. Os filhos são usados como armas de arremesso acabando por ser, quase sempre, as maiores vítimas em todo este processo. Há várias questões que me causam algum incómodo. Uma delas é: como podem duas pessoas que tiveram momentos de amor e intimidade, que conheceram os seus segredos mais íntimos, que conceberam seres por amor, de forma consciente, odiar-se tanto? Outra tem a ver com esses mesmos seres. Se esse é o maior amor de todos, se amamos incondicionalmente (ou quase), como podemos afastar os nossos filhos de quem eles tanto amam e lhes quer bem? Como pode um amor de um pai/ mãe ser inferior ao ódio que nutre por aquela pessoa que foi outrora a sua cara-metade? Como podemos nós estar equipados com ovários e testículos se não temos o software para lhes dar o devido uso? A teoria evolucionista tem que ser mais selectiva aqui. Se preciso for, programem-nos... para bem daqueles que pomos cá fora.

7 comentários:

Apple disse...

Também vi...Um horror. Assusta-me ver até onde o ódio e o ressentimento se conseguem elevar. Faz-nos pensar, também...

Pulha Garcia disse...

Não vi mas a experiência tem ensinado a valorizar mais a posição dos pais divorciados do que o contrário. O chão está demasiado inclinado.

Gostei da citação de Menkel.

via disse...

é, também me impressiona como o ódio pode ser tão estúpido e tão destrutivo, abomino todas as formas de ódio, aliás acho que esse sentimento me é completamente estranho.bjo miúda

Cassandra disse...

Apple: sim, pensar coisas como "será possível que mudemos, assim, como todos os outros?"

Via: concordo. És incapaz de odiar. That's why I love your big amazing heart, my friend:)

Pulha: Menkel é fabuloso. De um humor e ironia corrosivos. O mais europeu de todos os americanos. Thanks for dropping by.

Pulha Garcia disse...

By all means, Madam. By all means.

J. Maldonado disse...

1. Vi parte dessa reportagem e fiquei sensibilizado com os testemunhos.

2. "como podem duas pessoas que tiveram momentos de amor e intimidade, que conheceram os seus segredos mais íntimos, que conceberam seres por amor, de forma consciente, odiar-se tanto?"

Colocaste uma questão pertinente de difícil resposta.
No fundo é uma questão de carácter, pois ter-se ovários e testículos, por si só, é irrelevante...

Cassandra disse...

Maldonado: é evidente que a genitalia é irrelevante, apenas me preocupa a possibilidade de todos terem filhos sem carácter para tal. Daí a formação. O ódio é um sentimento estranho. Para mim, incompreensível.