domingo, 30 de agosto de 2009

Divorced at 10



Esta é uma história de bravura. Indiscutível. A coragem que advém de uma inocência e infantilidades provocadoramente honestas.
Há outros factos para além daqueles aqui apresentados. A criança foi convidada para aparecer em talk-shows na Europa e recebeu um prémio na América para mulheres do ano (embora a mesma queira ser tudo menos mulher de alguém). Viajou acompanhada da advogada que a ajudou a conseguir o divórcio. Regressou ao Iémene para voltar a estudar. Não voltou a pegar nos livros porque a família não quer, porque não há dinheiro, porque esperavam que todo este abraço ocidental, de mundo desenvolvido que se espanta com o atrevimento de quem se recusa a ser alvo de uma pedofilia legalmente consentida, os deixasse endinheirados. Não deixou. Lá está. Esquecida no meio da miséria, com os seus 15 irmãos e irmãs, o pai doente e a mãe triste pela desonra de que a família foi alvo. Anda o mundo ocidental preocupado com pais que deixam a sua filha viajar à volta do mundo com apenas 13 anos, quando estes as entregam meninas, ainda imberbes, nos braços de uns selvagens que se escudam atrás de uma religião que, pecando por ser omissa, lhes permite as maiores atrocidades contra o sexo considerado fraco, objecto de honra e de posse.

Há poucas coisas que me dão a volta ao estômago. Esta é uma delas. Só me apetece pegar numas bombinhas de plutónio, acabar com esta raça de homens e queimar todas as burkas de uma vez.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Writing 1

Ela estava pronta para ir mais além. O jantar fora agradável. O vinho alentejano que ele pedira deixara-a bem disposta. A massa também não lhe caiu mal, ainda que comida italiana fosse sinónimo de estagnação no seu dicionário social. Os jovens enamorados e pouco endinheirados é que se empanturram com pizza. Mas enfim, ele havia pedido para ela uma massa fina, com um molho estranho mas nada desagradável.
Ele falara de pintores, de viagens a Barcelona e a Madrid, a museus e fundações que ela sempre quisera visitar. Mesmo ali, quase ao pé de casa. "Sabes, um dia destes, fazem uma ligação rápida a Madrid e podes ir ao Prado sempre que quiseres. Ficar a olhar para as "Meninas" a tarde toda". Sim, ele também olhara para as meninas dela durante todo o jantar. Ela sabia que tinha nele um efeito mais empolgante que o Prado. Ela conhecia o Prado. Fora lá numa visita de estudo do secundário. Não se lembra de meninas nenhumas.
Na Gulbenkian sentira-se levitar. Aquelas vozes em uníssono e o embalo daquelas cordas faziam-na imaginar-se dona de uma inteligência emocional que desconhecia possuir. Sentia-se leve e muito emocionada. Ela acreditava verdadeiramente que ele poderia ter qualquer coisa fenomenal, algo de especial que lhe causasse um nervosismo acrescido, uma qualquer tontura quando ele lhe sussurrava ao ouvido. Ou talvez fosse o bom vinho alentejano do jantar, diluindo-se no sangue quente bombeado por tenores e contraltos, espicaçado por todas aquelas cordas em palco. Ela queria verdadeiramente que fosse ele. Tinha o peito perfumado, o cabelo bem aparado, umas orelhas discretas. Não há nada pior do que fazer amor com um alguidar, pensava, sentir-se-ia tentada a puxar-lhe ainda mais os abanos.
Era um homem culto, com uma profissão segura. Excelente para apresentar à família. As irmãs roer-se-iam de inveja. Ela seria penetrada por um fulgor totalmente diferente, tudo nela seria valorizado. Ela tinha os seus trunfos e sabia ter uma conversa muito agradável, gostava de lhe perguntar muitas coisas que lhe permitiam discorrer sobre as suas viagens, sobre os negócios da empresa, sobre as muitas coisas que havia descoberto e que com ela partilhava. Ela sabia que isso lhe dava poder e um homem poderoso é um homem atencioso. Inevitavelmente, ele elogiava a sua pele macia, os seus cabelos cor de avelã, a sua doçura. Tudo corria bem. Não havia motivos para o outro ir aparecendo em reminiscências durante o jantar.
O concerto inebriara-os. Ela estava consciente do passo seguinte, até porque ele lho sugerira com o calor dos lábios a entrar-lhe pelo ouvido dentro. Sim, vamos para um hotel. Deram umas voltas de carro até encontrarem um lugar condizente com a noite, romântico, discreto. Subiram. No elevador a certeza começou a desvanecer-se juntamente com o efeito do vinho. Ele tocava-a com a leveza de um escultor que admira a sua peça, sem invadir os panos que a cobrem antes da mostra ao público. Ela queria paixão, queria que ele deixasse as críticas artísticas para os jornais de domingo e a agarrasse ali, se imiscuísse pelos seus esconderijos, lhe avariasse todas as coordenadas. Quando entraram no quarto e ele se começou a despir, ela deixou-se ficar, erecta, expectante, a respirar fundo. Sentiu o cheiro do ambientador. Dos corpos que ali estiveram. O cheiro invisível da promiscuidade. E ele ali estava. Pronto para a receber. Ela olhou-o bem, assim, nu, excitado, à espera dela. Ela olhou-o mais uma vez. Virou-lhe as costas e saiu.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Vamos a banhos

Este edital é de 1941 e foi colocado pelo capitão do porto de Portimão. Reza algumas relíquias como as que se seguem:
"O fato de banho para senhoras deve ser inteiro. O calção será justo à perna e de corte direito. A frente do fato deverá cobrir a parte anterior do tronco, não podendo o decote ser exagerado a ponto de descobrir os seios. As costas poderão ser decotadas, sem prejuízo do corte das cavas que deve ser cingido às axilas."
"Não é permitido o uso de fatos que se tornem imorais pela sua transparência ou pela excessiva elasticidade do tecido."
"Às raparigas até 10 anos e aos rapazes até 12 não é aplicável o disposto no nº1, excepto nos casos de desenvolvimento precoce."
LINDO. Adoro a forma como lidavamos com os nossos impulsos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Facebook

Eu, que até nem gosto do senhor, dado os seus ares de arrogante, prepotente e supra-sumo do conhecimento e da humanidade, vejo-me obrigada a concordar perante esta visão do Facebook. Eu, que passei oficialmente a detestar o homem que abomina a profissão docente (deve ser por saber como a irmã trabalha e eu sinto-me perfeitamente à-vontade para a avaliar dado que fui sua aluna no ensino superior), vejo-me obrigada a concordar com o gajo/ comentador/ fumador compulsivo/ engatatão de capa de livro. Eu continuo a ter poucos amigos online e continuo a dar muitas, muitas negas. Não consigo manter amizades virtuais. Lamento. Gosto demasiado dos meus amigos para reduzir o conceito do amor que sinto por eles a listas infinitas de desconhecidos solitários.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Lobo Antunes

O amor tem destas coisas. Soube através do fabuloso Francisco José Viegas, que soube através de uma coluna de mexericos do Brasil que o grande escritor António Lobo Antunes, de 66 anos, se perdeu de amores por uma professora universitária brasileira de 30 anos. Bem gira, por sinal. Uma pequena pesquisa faz-nos chegar a todo o lado e, numa espreitadela para procurar quem seria a misteriosa mulher que, com tão poucos anos de vida, deixa abalado o coração de um génio solitário, envolvido na poeira do papel, imiscuído na intimidade das suas milhentas leituras, foi isto de descobri. Não sei porquê, acho que isto é um amor narcisista, de adoração. O mestre adorado e estudado pela aprendiz. A bela fascinada pelo seu objecto de estudo. Todos temos as nossas formas de amar e há diferentes formas de "firmar compromisso" como dizia o colunista brasileiro.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

church


Sendo Portugal um Estado laico, interrogo-me sobre as várias emissões em directo que passam na televisão que, supostamente, presta um serviço público a todos os portugueses. Não sei o que aprenderão os budistas, muçulmanos, protestantes, judeus e hindus portugueses, entre outros. Sei que eu não aprendo nada. Gostaria que estas emissões vindas de Fátima (emissões televisivas, que a dita senhora não deve apreciar nem as oliveiras de agora e muito menos os jovens pastores e portanto não "emite" mais nenhuma aparição) me elucidassem sobre a fé dos portugueses e a o eventual poder da mesma (curas, paz de espírito, afterlife, whatever, something). Mas não. Interrogo-me porque estarão tantos pinguins esbranquiçados de sotaque rural, com reminiscências de interior profundo à sombra, com ar de bons repastos e bons vinhos bebidos no lugar de sangue do Senhor, falando para um multidão de gente à procura de algo, à torreira dado o seu lugar na hierarquia. Alguns regressarão ao país que os acolheu, outrora emigrantes esfomeados, devidamente abençoados. A benção será tanta que poderão ser chamados antecipadamente para o reino dos céus através de um qualquer acidente estúpido numa auto-estrada francesa. Seja feita a buntade do Xínhôr.
Será que as tentações deste país não superam a vocação de orar para um povo vazio de ocupação? Não haverá carnes fracas entre aqueles todos aqueles senhores abatinados, descansando à sombra do mausoléu erguido em cima de uma oliveira? Onde estão os bons velhos franciscanos? Quem, destes senhores que vejo na televisão anda de aldeia em aldeia para abdicar de si e ajudar quem mais precisa? Poucos ou nenhuns. A bancada está cheia.
Fátima não me diz grande coisa. Mesmo assim, lembra-me uma passagem bíblica:
Marcos 11:15 E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.
Marcos 11:16 Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo;
Marcos 11:17 também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores.

Solnado

Porque era um humorista absolutamente fabuloso, porque tinha tiradas geniais, porque usava o silêncio como ninguém, a espera, aguentava o riso compulsivo do público e manipulava-o, deixo aqui a homenagem a Raúl Solnado. Todavia, escrevo também porque ele telefonou a um grande amigo, sabendo que o seu coração estava por um fio, querendo despedir-se de quem partilhou os êxitos consigo: Carlos Cruz.
O que causa alguma estranheza é como tantos amigos deste antigo portento da televisão e comunicação nunca o abandonaram. Nunca. Será que não percebemos as taradices dos nossos amigos? Será que em anos e anos de convivência desconhecemos que são criminosos pérfidos, manipuladores, potenciais usurpadores da inocência infantil? Será que conseguimos dissimular assim tão bem? Serão assim tão ignorantes os nossos mais fiéis amigos? Ou será que alguém se enganou? Será que as amizades eternas perdoam os crimes mais hediondos? Achei interessante aquele telefonema. Continuo sem saber quem é inocente. Isso incomoda-me. Ainda que nos dissesse para "fazermos o favor de sermos felizes" há sempre rios de dúvida lamacenta pelo meio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Momentarily favourite song III



Adoro estas reminiscências das "chicotadas" dos eighties.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Two Lovers

Porque nem sempre amamos a pessoa certa. Porque não sabemos ao certo o que é amar. Porque também apetece morrer por amor. Porque a monotonia nos mata. Porque a tradição enclausura e sufoca. Porque há escolhas, alternativas. Porque há diferentes tipos de morte. Porque o Joaquin Phoenix é muito bom actor, muito misterioso, enigmático na sua diferença e a Gwyneth Paltrow tem mamas novas para mostrar (pronto, pronto, a senhora é uma excelente actriz). Porque às segundas o bilhete é mais barato. Porque os planos são muitíssimo bons, assim como a fotografia. Porque um bom filme não precisa de uma história épica. A simplicidade das nossas vidas mundanas pode ser um grande drama. Porque um amor não aparece ao virar da esquina. Mas porque pode aparecer, saiam de casa e vão ao cinema. Também tem uma boa realização. Peço-vos... evitem salas com pipocas. Estragam os bons silêncios.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Justice

Isaltino foi condenado a 7 anos de prisão efectiva. Isaltino Morais foi condenado a 7 anos de prisão efectiva. E a perda de mandato. Prisão efectiva e perda de mandato. 7 anos. Prisão. Prisão. Prisão... Vejo uma luz ao fundo do túnel? Vejo? Vejo?

domingo, 2 de agosto de 2009

Short talk

Dizia a minha tia sobre o recente fim de um casamento de um outra afilhada sua (isto dos divórcios parece praga): "A mãei só fala contra o gênro mas eu óvi-a (à filha) a respondê-le (ao marido) "à besta". Foi na Páscoa. O coitadinho do rapaz, tan delicado, disse-le qálqé coisa e ela dê-le um coice... e ê penséi - o cáldo tá intornado. Agora dêxou-o. O rapaz já tinha indo travalhár pá Alemanha e ontrodia ela saiu de casa, nei. Tu já me biste isto!! A priga dêxo-o e ele abalou de bez pra travalhar lá. Os pais dela queriêm savêri e ela lebou-o lá a casa e disse: "Ê já nam gosto dele. E ele tem outros gostos!"
O rapazinho é uma simpatia e agora tam-lhe a pôr este defeito assim, néi, cume s'ele fosse paneleiro, nã tá bem. Ela tava bem era calada, ai ai. Rais ca ta partissa mas ó dinhêro qu'ê gastei na merda do vestido."
E é assim. Uma pessoa deixa de amar... Uma pessoa descobre que afinal é gay... Mas há que pensar bem nestas probabilidades antes de se escolher a madrinha.