quinta-feira, 28 de maio de 2009

Being a teacher

Tantas e tantas vezes ouvi falar de que os professores precisam de ser avaliados. Toda a gente o é no privado. Concordo, sim precisam. Tantas vezes oiço dizer que os professores não fazem nada e, como se não bastasse, que têm horários magníficos, permitindo-lhes ter uma vida de perfeito laxismo e ócio. Sim, alguns horários são bons. Sim, alguns professores trabalharão pouco, concordo.
Todavia, estou cansada de generalizações. Eu não sou única e extraordinária. Ensinaram-me a nunca pensar assim. Um ego excessivo aniquila o perfeccionismo e a capacidade de auto-análise. Debato-me com a minha solidão de filha única, rodeando-me de amigos, famílias emprestadas que me condicionam positivamente o egocentrismo.
Há muita gente como eu. Trabalho todos os fins-de-semana. Preparo a maioria das minhas aulas. Entrego os testes 3 dias depois ou logo na semana seguinte. Não falto. Não chego atrasada. Saio de casa, dependendo do sítio onde fico colocada, com duas ou uma hora e meia de antecedência. Todas as correcções que faço têm anotações que explicam os erros cometidos pelos alunos. Tento inovar e motivar. Não tolero a preguiça e o facilitismo, lamento. Não tolero a falta de educação. Valorizo o esforço e o empenho, bem como o perfeccionismo. Procuro ser o mais objectiva possível na minha avaliação.
Não sou perfeita, mas sou muito boa. Ganho o mesmo desde que comecei a dar aulas, que depende sempre de ter ou não horário completo. Estou numa roleta russa. Sou colocada primeiro mas quem vem depois pode ficar com um horário melhor e com mais ordenado. Não interessa se a minha média ou currículo é melhor. Não tenho prémios no final do ano. Em Agosto vivo numa grande incerteza. Em Setembro começa tudo de novo, com gente nova, alunos novos, itinerário novo. Mas a minha força, empenho e dedicação mantêm-se, sem qualquer incentivo para além do próprio trabalho. Chamem-me parva, porque no privado ninguém faria só pelo brio. Money is what makes the world go round.
Este ano decidi ter aulas assistidas. Quero ser avaliada. Se tiver Muito Bom ou Excelente nada vai mudar na minha vida. Nada. Não subo na ordem dos condenados, não ganho mais, os meus alunos não me poderão ter como professora no ano seguinte (se eles não quisessem, nem escreveria isto). Apenas não tenho medo e espero que, um dia, haja uma avaliação verdadeiramente justa e idónea.
Por enquanto, a única coisa que me ocorre quando vejo, leio e oiço comentários generalistas sobre os professores - calões, ignorantes, palhaços, manipuladores, parasitas, sanguessugas - é uma vontade premente, gigantesca de partir a tromba aos ignorantes que fazem estas generalizações. P... que os pariu! Desculpem, estalou-me o verniz. Sou profissional mas não deixo de ser humana.

2 comentários:

J. Maldonado disse...

No fundo os pais são comodistas, pois preferem delegar na escola a educação dos seus filhos. Se puderem lá tê-los durante 24 h só para não se chatearem, até agradecem...
Quando a Educação vai mal porque é que se atribui logo a culpa aos professores? Pelos vistos, estes têm costas largas...
Muitos pais deviam mas é estar calados e preocuparem-se mais em dar educação aos seus filhos do que PSP's, PC's ou telemóveis...

Cassandra disse...

O grande problema nem são os pais... é a legislação ministerial que protege o facilistismo. Não tardará o tempo em que basta mostrar o Magalhães para obter o canudo.