quinta-feira, 19 de março de 2009

Contest

Todos os anos os professores contratados procuram uma nova escola que os acolha. Uma população estudantil completamente distinta, novos colegas, novos superiores, novos itinerários, novo horário. O chamado stress do início do ano. Está a decorrer o concurso para listar as 173 preferências entre escolas, agrupamentos de escolas e concelhos. Cada ano que passa há uma novidade por parte do ministério. Aparentemente, com alguma rasteira escondida para garantir que abrem menos vagas e que o Estado incorpora menos pessoas nos seus pagamentos obrigatórios. Até o Estado tomar consciência de que o sangue novo, devidamente formado, pode dinamizar as escolas, muitas delas envelhecidas por um corpo docente que já não se suporta, os contratados andam aos caídos, por aí. De terra em terra, de concelho em concelho, de distrito em distrito, com a casa, os livros e o portátil às costas, a fazer o que mais gostam. Todavia, cada vez mais desgastados. Nunca verão aumentos a não ser que abra uma vaga. A avaliação é um pro-forma que não altera a sua condição precária, de saltimbancos com demasiada formação. Somos a carne para canhão do ensino. Os tapa-buracos de qualidade. Não vale de nada que os alunos queiram continuar comigo como sua professora, nem a vontade dos pais sequer. Neste país, anda tudo à roda.
É muito fácil criticar e entregar a classe docente à crítica da opinião pública. Somos os bodes expiatórios mais acessíveis. Temos que educar, formar, ensinar, ser exemplos. Todos os dias exijo os "obrigado", "peço desculpa pelo atraso", "posso entrar", etc e tal e coisa. Contudo, se o aluno chega todos os dias a casa e não pede licença para se retirar da mesa e mecanicamente vai mandando SMSs durante todo o jantar perante a passividade paterna... é uma batalha perdida.
Há gente com razão e gente sem ela. A grande verdade é que a crise de valores éticos e morais está por detrás de toda esta crise educativa, económica (o caso Maddoff só é possível quando não há qualquer ética) e social. Todos temos culpa mas se este governo continuar a achar que pode cortar o orçamento da educação e da saúde, manipulando os seus intervenientes como marionetas, vamos ser uma sociedade vazia de honestidade, decência e respeito. Seremos todos velhos em listas de espera infinitas nos centros de saúde ou abandonados em lares ilegais por filhos demasiado preocupados com os novos valores. Afinal, vamos todos a concurso. Let us see who is luckier.

1 comentário:

J. Maldonado disse...

A ausência de políticas educativas eficazes está a transformar o nosso ensino num circo ou num ringue... :(