Um filme genuinamente belo. Um quadro pulsante de cor e design. Uma sessão fotográfica em movimento. Uma procura incessante de ângulos certos. Um zoom de bocas, olhos, rabos. Uma escolha fabulosa de objectos e de época.
Este filme é uma novidade cinematográfica. Uma homenagem à imagem e ao olho perfeito do designer Tom Ford. Todavia, ignoraria a componente narrativa se reduzisse esta breve epifania à sua mera beleza visual (e auditiva, que a banda sonora só a engrandece). Fez-me lembrar Ulisses de James Joyce. Um simples dia na vida de um homem que, em momento algum, se torna enfadonho ou penoso para o espectador. Os vários planos dos relógios agigantam a dor do protagonista e preparam-nos para um final aparentemente inevitável. Mas é só aparentemente, porque as várias circunstâncias e os elementos em torno do homem vão delineando uma outra história... ou não.
Ficamos expectantes e deliciados. Somos manobrados com requinte, pormenor e sofisticação. Adoro quando um cineasta faz isto. Tudo isto ao mesmo tempo que me conta uma história de amor. Ninguém resiste a uma história de amor. Principalmente tão bem pintada. Sem excessos. Sem defeitos. Simplesmente perfeita. Como se não bastasse, está cheia de pessoas belas. De embalagens belas, sem que a beleza queira dizer muito perante as lembranças do passado.
Quanto à interpretação de Colin Firth - 5 estrelas. Já o disse anteriormente mas reafirmo. O que um actor transmite em silêncio é demasiado difícil para estar ao alcance de todos. O embaraço e a angústia saem tão naturalmente dos olhos deste actor que me esqueci de todas as comédias românticas que já fez. A não perder. A ignorar pelos/as homofóbicos/as e/ ou sem sentido estético because it might not be understood. It just might.