segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

The moving pictures

Adoro cinema. Nenhuma terapia supera esta cada vez que me quero ausentar do meu mundo e do que me rodeia. O ecrã catapulta-me para universos alternativos, os grandes dramas humanos limpam-me os canais lacrimais e as bandas sonoras "obrigam-me" a fazer pesquisas infindáveis na Amazon para possuir aquele cântico dos deuses (refiro-me à banda sonora do Perfume e à do filme Crash). O cinema ajuda-me a relativizar o restante, mesmo sabendo que a vida não é um filme e sabendo de antemão que é melhor não acreditar no impossível. Fiction is fiction. Mas é uma fantasia bela, uma ilusão sedutora e de bom grado me deixo conduzir pelas "moving pictures".
Todavia, este processo catártico transpôs a barreira da epifania para ser reduzida a umas boas horas a mastigar pipocas de boca escandalosamente aberta, com as mãos enfiadas naqueles baldes, semelhantes a poços de milho e caramelo torrado, com as bocas a fazer beicinho enquanto gargantas secas de tantos comentários laterais (como se já não houvesse legendas para tal) sorvem ávidas refrigerantes com calhaus de gelo, ao mesmo tempo que adolescentes e casais de namorados de fim-de-semana comentam os dotes físicos dos actores ou antecipam a cena seguinte. Para este povo consumista, para quem a arte se resume aos excelentíssimos efeitos especiais da nova playstation, existem DVDs e grandes ecrãs plasma, maiores que as suas salas. Mas não é o cinema uma arte de multidões? Sim, concordo. Mas multidões caladinhas que tiram uma pipoca de cada vez e fecham a boquinha para mastigá-la, lenta e cuidadosamente. O filme vai começar....silêncio e respeitinho. Pode ser?!

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