Nos momentos complicados os portugueses vêm sempre em auxílio dos necessitados. Nunca duvidei disso. A questão é o tempo que isso pode demorar. Este fim-de-semana, enquanto apreciávamos um belo passeio pelas intermináveis praias da Costa da Caparica, reparei que um kite-surfer entrava na água gelada, sozinho. O gajo tem que ter tomates, para se aventurar nestes ventos sem qualquer vigilância. Deve ser um especialista, pensei eu. Ainda perguntei ao V. se eles não ficariam aflitos perante a possibilidade do kite, ou papagaio gigante, não louro, cair na água. Como sou uma ignorante nesta matéria, o V. lá me explicou que aquilo tem um qualquer sistema insuflável que funciona como bóia, evitando o afundanço. Ah! Tá bem...
Na passeata de regresso, apercebi-me que o kite-surfer tinha o kite caído na água e tentava desesperadamente levantar aquela cena. Enquanto o V. foi comprar uma garrafa de água, apreciei o espectáculo do desportista de fim-de-semana e o que, a meu ver, começava a tornar-se um desespero. Achámos por bem perguntar a um senhor musculado que se passeava por ali com uma estrangeira se conhecia o coitado. Afinal não, era um nadador salvador que estava a tentar impressionar a estrangeira mas que ainda não tinha achado necessário proceder a qualquer estratégia de salvamento. Pudera. Se fosse a gaja a precisar de respiração mouth-to-mouth iam ver quanto tempo demorava. Telefonámos para a capitania. Nesta altura, já o coitado se afastava cada vez mais, tentando recolher o papagaio e saltar para cima da coisa, evitando que o vento o levasse para fora da vista. O senhor do bar aproximou-se dizendo que não havia meios marítimos fora da época balnear. Ora bem, tem lógica. Porque haveria meios marítimos, de salvamento, na orla costeira, da Costa da Caparica até ao Cabo Espichel? Faz lá algum sentido!? Com isto tudo passou uma hora e o coitado do rapaz já devia estar a desenvolver barbatanas e guelras no corpo gelado. Veio o jipe da polícia marítima com dois rapazes apressados lá dentro que se empoleiraram numas dunas para ver o turista a afastar-se nas correntes, através de uns belos e gigantescos binóculos. E a mota de água? E o jet-ski, cadê? Nada... Era precisa activar a capitania do porto de Lisboa. Pois, imagino. Com tanta destreza e perspicácia ainda enviavam um cacilheiro. Entretanto, perdemos o rapaz de vista. Suponho que tenha chegado a nado até ao cabo Espichel, usando as rédeas do kite para escalar a falésia. Com meios tão bons para salvar um gajo, é melhor praticar desportos radicais devidamente artilhado, assim como o Bond, James Bond. Just in case.
3 comentários:
Realmente é impressionante a inépcia das nossas autoridades perante certas situações de emergência. :-o
Pelo sim, pelo não o melhor é não arriscar e ficar em casa a folhear uma revistazita! Deve ser isso que pensam os socorristas náuticos, penso eu de que...
Há coisas tão parvas, mas tão parvas... são essas geralmente que me fazem constatr que vivemos no terceiro mundo dentro da UE e que ninguém se importa. Nós somos os naufragos sem assistência!
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