terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Mouth of the World

Hoje até o ar anda cansado
Preciso de um enigma para pôr fim ao torpor
Não sei o que me deu
Não costumo estar assim...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Belly button

O mundo seria um lugar muito mais feliz se eu pensasse apenas no meu umbigo. Quando achamos que temos uma alma grandiosa mas a imensidão da mesma esbarra nos limites da nossa humanidade estamos sempre na iminência de cobrar, de exigir, de querer mais. Dos outros, dos próximos, dos distantes, de nós mesmos. Seria melhor se nos rendêssemos à nossa insignificância biológica e satisfizéssemos as necessidades mais primárias. Acabou-se o lirismo, a poesia, a grandeza humana. É como dizes, minha amiga, o amor é um atelier de tempos livres. Um campo de férias. Reconheço que estás certa. Infelizmente.

Human kindness

Entre um papa generoso que compara o aquecimento global aos muitos homossexuais coming out of the closet, um superior povo judaico que elimina radicais islâmicos correndo o risco de levar uns civis inocentes como danos colaterais, e um governo que salva os seus compinchas bancários da banca rota... venha o diabo e escolha. A bondade humana está na falência e ninguém tem um plano de contingência para nos fazer acreditar no amor e altruísmo humanos. No meio de toda esta insanidade e crise de valores, os portugueses que ainda têm direito a algum crédito fogem para as ilhas - os mais pobres, para a Madeira, os mais afortunados, para as Caraíbas. Aos que recusam fugir (ou lhes falta o pilim para isso) resta-lhes um milagre ou uma carraspana de fim de ano para esquecer as desgraças. Voto na segunda. Sempre desconfiei dos pastorinhos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Inexplainable




There must be some reasons for not feeling peaceful or satisfied. With the exception of a house, which I would very much would like to be able to call my own, I can say I have almost all I've always wanted. I guess the "almost" makes all the difference because I have violent thoughts running through my head. If someone says "Isn't that lovely?" or even "Do you want to have something to eat?" I just want to open wide and bite their heads off.


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

I f... hate Christmas

O meu Natal sempre foi a mesma coisa e não vejo forma de animar isto. A família deita-se com as galinhas, o bacalhau é para jantar a horas inglesas, os stocks de meias e cuecas são renovados e há quem beba sempre de mais da conta. Acabo a jogar minesweeper porque não tenho pachorra para aguentar filmes natalícios para menos de 4 anos, todos dobrados a português. O Natal é das crianças, já sabemos. E o que acontece aos pobres coitados com famílias taciturnas, sem putos e obrigados a gramar isto? Deitam-se cedo ou vêem o Alien pela nonagésima vez. Este ano nem a árvore de Natal teve direito a sair da garagem. Para o ano, viajo para um qualquer país asiático onde o menino Jesus nunca meteu os pés e os Cruzados não tiveram oportunidade de espalhar esta fé consumista. Estou cansada de tantos aniversários. O "menino" que me desculpe mas não lhe organizo mais nenhuma festa.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Hunger

O filme de Steve McQueen é muito bom. É muito plástico, muito cru e muito violento. É uma história demasiadamente penosa e cruelmente real. Não consigo deixar de admirar quem se sacrifica por uma causa. Quem recusa levar comida à boca durante mais de 62 dias por uma identidade. Bobby Sands fê-lo por um pedacinho de país que não era nem terra de ninguém nem de Sua Majestade. Era um pedacinho irlandês. Negociado entre a República da Irlanda e o UK, mas originalmente irlandês. Os ingleses não devem gostar deste filme. Nem as pessoas susceptíveis. Eu gostei. Não sou inglesa nem susceptível, pelos vistos. É inovador na apresentação das personagens, na montagem, na fotografia. É sobre uma causa. A fome é só um meio para um fim. No fim, não há meio de termos apetite. Não há bela sem senão.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

The burden

This is a true story:

after almost fifty years together, after countless beatings and life threats(in case she left him), after inumerous lovers and possible bastards being born all over the country, after inumerous public humilliations, after thousands, thousands of hangovers and spending half oh his life drunk, the husband leaves the wife. He throws her out. After she had endured all of these tortures and sacrifices, he leaves her for another woman. He stops the drinking, the beating, the swearing. He shaves, he has a daily bath and he has new teeth. In a year or so, another woman gets a new man and the ever-faithful wife gets thrown out. Never once she was respected, loved, cherished. Ever.There's no bigger humilliation than this.

Clown

Sinto que o palhaço em mim está a ganhar força e imiscuir-se na minha personalidade séria, na minha imagem profissional. Sinto-o cada vez que dou aulas e vejo os meus alunos a rir. Há muitos casos complicados mas eu não costumo tê-los. Sou uma felizarda mas também sou uma pessoa feliz. Sou feliz e mal paga, mas esqueço o salário quando estou perto de adolescentes complicados e estranhos, cheios de borbulhas e pés enormes, com idiossincrasias de endoidecer qualquer pai são. Gosto dos putos. Divirto-me a ensiná-los. Nem sequer os passo todos mas eles divertem-se na mesma.
Curiosamente, quanto mais palhaço me sinto, mais me afasto do sentimento de compaixão. Acho que estou a sofrer mutações irreversíveis. Por enquanto não me preocupo. Quando sentir a tentação de colocar uma batatinha vermelha, sigo para a psicanálise.

My marks

- Então, que nota achas que mereces?
Aluno: "Sei lá, stora. Não sei."
- Que tal um cinco, hum?
Aluno: "Não, cinco não!"
- Afinal, sempre sabes o que fizeste por merecer.
Aluno: "Sei lá, um oito, o que a stora achar melhor."
- Vamos ver. (Segue-se uma ajuda preciosa para reflectir sobre o trabalho empreendido pelo próprio aluno ao longo do período, através das maravilhosas grelhas de registo).
No momento em que saem as notas:
"Fogo, a stora deu-me 8. Tive dois noves, vou à maioria das aulas, esforcei-me bué (por não adormecer), fiz os trabalhos de casa (2 em 15), fiz a apresentação oral (um texto copiado do Wikipedia) e a filha da puta dá-me um oito???? É preciso ter lata!"
Para alunos desesperados por justiça e igualdade no ensino, há um novo número de acompanhamento ao qual podem recorrer e deixar os dados do professor infractor que contribui para a retenção dos alunos e o atraso evolutivo do país nas estatísticas europeias:
TEACHERS' BUSTERS. Por favor deixa mensagem no atendedor electrónico de Miss Lulu Rodriguez. Não fiques para trás. Exige que te passem. É um direito que te assiste. És português, és europeu, tens direito a chegar ao ensino superior. Andar na escola é para todos. Tu não és diferente!

sábado, 13 de dezembro de 2008

It's raining eggs

A ministra parece ser mais sensível aos argumentos dos grupos sociais que arremessam ovos. Entre um professor que empunha um cartaz impecavelmente redigido e um aluno cujo discurso se compreende mal mas que tem meia dúzia de ovos e pontaria, a ministra opta por escutar o protesto do segundo.

Ricardo Araújo Pereira em Visão

Depois de 30 anos de carreira, dedicados a educar os filhos dos outros, um professor com todas as pós-graduações, mestrados e/ou doutoramentos, auferirá, no máximo, de acordo com este novo Estatuto da Carreira Docente, de 1700 euros mensais. Para os CEOs do país esta é a módica quantia gasta nas mensalidades de ginásios e Armani suits, para além dos jantarzinhos no LX... Estou farta de ler acusações infundadas. Mas não tenho tempo para mais. Preciso corrigir testes. Mas daqui a pouco vou repor o meu stock de ovos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Merry Xmas

Eu até gosto do Natal. É a festa da família, das crianças, de uma rena com nome de solteirão e de um velhote gordo de barbas que, feito voyeur, se esgueira por chaminés cinzentonas para presentear os meninos e que meninas que se portaram bem (eu devo estar na lista negra há vários natais). Todavia, e cada vez mais, sempre que como o bacalhau da consoada enquanto ponho de lado os grelos, sinto que deveria estar num outro local, a dar sopa aos pobres e a distribuir agasalhos pelos sem-abrigo. Cada vez mais acho as iluminações de natal uma mariquice pegada. Perdoem-me os fãs do Jingle Bells.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

I... thee wed and contaminate

Temos assim tanto medo de ficarmos sozinhos? Uma mulher francesa foi condenada a 15 anos de prisão por ter contaminado o seu marido com Sida. Após ler isto, passa-nos pela cabeça o adultério, o saltar a cerca, o medo de ser apanhada. A gaja andou no bem bom e foi tão vaca que ainda lixou a vida do tipo. Pensamento legítimo, tirando o vaca, mas as coisas tiveram outro outline. A senhora sabia que era portadora da doença e casou-se, carregando esse segredo consigo. O feliz casal teve um filho a quem, miraculosamente, não foi transmitido o vírus. Às vezes o acaso tem destas coisas, lixa uns mas passa ao lado de outros. O marido não teve a mesma sorte e lá está, com o sangue cheio do preconceito e estigma, sedento de vingança. Estamos no pleno direito de querer penalizar quem nos condenou a uma vida de comprimidos e cápsulas assim como a senhora estará no direito de se defender, se conseguir alegar algo que explique o egoísmo do seu acto. Seria, muito provavelmente, ridiculamente romântico da sua parte imaginar que partilhariam a mesma cama, mesa, ar, genes, depois da revelação: "Olha, o meu sangue tem esta coisa que me condena ao silêncio para poder viver no meio disto tudo e não à margem. Amar-me-ás da mesma forma se tivermos que comprar preservativos para o resto da vida?" Acho que a resposta do rapaz seria "Não". Se a amasse diria "sim". Se ela o amasse verdadeiramente, teria arriscado a solidão com a verdade.