domingo, 20 de janeiro de 2008

Love as a commodity

A minha geração é profundamente pragmática. Levamos o pragmatismo a tal extremo que acabamos mais papistas que o próprio Ratzinguer.
Há razões para tal: a vida está em contagem decrescente numa ampulheta mínima e não conseguimos experimentar todas as vivências desta juventude tardia. Somos eternos adolescentes em luta contra o tempo, sempre apressados, desejosos de cometer todas as loucuras oferecidas por uma sociedade orientada para o consumo hedonista.
O amor sofre muito com esta correria. Já não há prazer em usufruir apenas e simplesmente a presença da pessoa amada. Temos que engavetar tudo numa complexa cómoda chinesa: as horas do ginásio, do futebol, do yoga, do surf; os jantares e tertúlias com os amigos; os almoços com a família; as longas reuniões de trabalho; os relatórios; as actas; as pós-graduações, mestrados, doutoramentos e afins; os animais de estimação; as horas de pesquisa na net...
Numa lista interminável, ao amor está atribuída a gaveta do fundo, partilhada com uns mails, SMSs, telefonemas mas nunca com as cartas de amor. Essas foram há muito etiquetadas de ridículas.
Continuo a acreditar neste ridículo maravilhoso e nas pequenas coisas que alimentam um sentimento tão nobre. Não o acantonemos num lugar húmido e bolorento. Não digo que abdiquemos de todas as gavetinhas da nossa vida para cometermos loucuras amorosas (mas de quando em vez, até que faz bem).Também pertenço à casta dos workaholic, atormentados pelo fantasma do desemprego que os governos insistem em acenar na nossa direcção. Todavia, temos de desempoeirar os gestos ridículos e amorosos, escrever mais cartas de amor, oferecer mais flores (campestres vá, sei que as floristas estão pela hora da morte), escrever mais declarações nos post-it da porta do frigorífico. Não precisamos ser loucos dementes mas evitemos ficar dormentes. O amor está a encher-se de traças e não é uma naftalina de última hora que evitará a tragédia.
Lenny Kravitz lançou um novo álbum "It's time for a Love revolution"...Eu diria que está na altura de revolucionar o amor. Não se vende numa superfície; não se revitaliza num spa; não se "saca" da net. Precisam-se de apaixonados ridículos para não cairmos no ridículo de sermos apenas mais uns mamíferos a propagar a espécie. Amai-vos uns aos outros, everyday in the tiniest, stupidiest and apparently ephemeral details. It will make a difference. Just open your last drawer and see for yourself.

1 comentário:

manhã disse...

Em primeiro lugar: Parabéns! Aqui tens o teu espaço de distopia, o teu topos nas alturas mais estimadas, as alturas do coração! Boa sorte para o blog!