Há dois anos que não monto a árvore de Natal. Não celebro o nascimento de um menino que invoca muita coisa boa mas cuja ideologia principal (se o virmos como um mensageiro político) se perdeu no desgaste das eras. Verdade seja dita, a equipa de marketing to gajo é fabulosa! 2009 anos depois e aqui continua, em força! E sempre um menino. Só eu é que envelheço, tentando esconder os brancos que me espreitam nas frontes.
A religião é uma coisa estranha para mim. Confesso. É-o desde que inventei pecados com os meus sete anos enquanto esperava por segredar uma confissão a um homem de batina com um ar suspeito e pêlos nas orelhas. Ajoelhado, de perfil, aguardando a lista de gulas, preguiças e invejas de pequenos seres (luxúria com aquela idade... precoce mas não tanto). Inventar pecados é uma arte. Comecei a desenvolver nessa altura a arte da mentira, faceta que procuro desconstruir agora com alguma terapia. Nunca mais fui a um confessionário. Prefiro os amigos ou psicólogos. Não me mandam Avé Marias para trabalho de casa.
Cada vez mais o Natal me dá náuseas. Por isso, assumo aqui que vou instituir um princípio nos meus Natais futuros. Vou dar a quem precisa e limitar os gastos a coisas simbólicas. Entenda-se que quem precisa são os sem-abrigo e coisas simbólicas são cuecas. Há cuecas interessantes. Giras, vá.
Cresce-me nesta época delirante uma sensação incómoda: quanto mais materializo o meu amor pelos meus entes queridos, mais distante me sinto deles. Pode ser apenas impressão minha, mas deixa-me um gosto tão desagradável como o enfartamento a fritos típico da consoada.
Acho que o menino não nasceu para isto. Nem eu, for that matter.