quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Serralves

Fui a Serralves. O V. levou-me lá. Um pedido recente para diminuir uma vergonha antiga. Os jardins são lindos. Os quadros da Paula Rego também. Há uma escultura do Rui Chafes que achei fabulosa, feita em ferro mas com ar de papelão preto. Tirando isso, fico com a terrível sensação de que todas as instalações são uma incógnita. Tenho que tirar o chapéu às peças que me surpreendem pela originalidade. Não posso necessariamente falar de talento, de esforço, de atenção ao detalhe. Apenas digo "é diferente" e penso cá para comigo "que giro, porque é que nunca me lembrei de nada assim?". Provavelmente porque não tenho alma de artista... nem atrevimento para tal, for that matter. Outras há que são tão inacreditavelmente vazias de significado - talvez isso seja, por si só, uma mensagem - que perder muito tempo a olhar para elas é validar a sua presença naquele belo espaço branco e amplo. Quando encontro quadro brancos com a tela dobrada a meio, preciso ter a certeza de que tem mesmo um quadradinho identificador do lado esquerdo para perder um olhar precioso com a dita obra de arte. A determinada altura, eram tantas as tábuas, as areias, os quadros brancos, o alcatrão, que dei por mim a olhar para os extintores e para os quadros avermelhados com as mangueira escondidas como possíveis instalações. Só conseguia catalogar a minha ignorância quando, no lugar da suposta etiqueta, lá estava a parede. Branca. Sem nada. Provavelmente também ela seria uma obra de arte. Fazê-las assim direitinhas e bem rebocadas já há poucos.
Muitos anos passaram desde que Duchamps inverteu o urinol e o conceito de arte. Seria de esperar que a evolução artística também conseguisse fazer coisas diferentes no que toca à arte contemporânea. A verdade é que devo ser eu que não consigo deixar de ver o artista como um talentoso, um ser especial, diferente dos demais. Ainda bem que os bilhetes eram grátis este fim-de-semana. Caso contrário, sentir-me-ia defraudada.

3 comentários:

via disse...

a arte contemporânea, na sua grande maioria, tem também sobre mim o mesmo efeito de tédio e de indignação, isso mesmo que sentiste!

J. Maldonado disse...

De facto o conceito de arte é bastante complexo, dependendo da sensibilidade de quem a encara.
Fizeste bem em conhecer Serralves, pois é uma grande referência museológico-artística nacional. Também espero fazê-lo um dia desses... ;)

sofia disse...

Tenho uma relação pouco racional com a arte, nomeadamente a menos empática, aquela que precisa de legendagem como uma validação de reconhecimento. Talvez a culpa seja minha pela pouca erudição, mas, de facto, às vezes um bom reboco toca-me mais do que uma série de elementos, materiais e conceptuais, que não me transmitem nada mais do que estranheza e vazio. Não gostando particularmente do Chafes e não tendo qualquer reacção ao Cabrita Reis (com exemplares na expo permanente da Gulbenkian)ssinto-me melhor ao não ficar indiferente às instalações da Joana Vasconcelos. se calhar é do tamanho...