terça-feira, 26 de outubro de 2010

Alternative

Os alternativos são uma espécie muito interessante. Oscilam entre o negligée, blazée, e mais não sei quantos termos franceses muito fashionable e intelectuais e os radicais, proscritos, navegando pelas franjas sociais. Vestem geralmente de escuro, fazem gala de levar o casaco do avô, cheio de borboto, e a malinha da avó, roubada a um baú trancado a naftalina no sótão. Geralmente primam pelos cortes desconcertantes ou pelos cabelos vermelhos. Não usam madeixas. Não condiz com os seus neurónios. Perante a imagem esbatida e descuidada de quem procura diminuir a importância das primeiras impressões, dando a impressão de que o trato está no interior e não nas unhas, surge um elemento de destaque: geralmente uns ténis coloridos ou uns óculos de massa muito, muito grossos. Porque a leitura é farta e as miopias agudizam-se.
Quando percorro muitos filmes do DocLisboa, sinto-me uma outsider. Não sou suficientemente alternativa. Gosto de me perfumar e pintar as unhas com cores normais. Gosto de futebol e de filmes de massas. Gosto do que o povo gosta. Note-se que os bilhetes que comprei para o Tony Carreira foram para a minha mãe, OK? Quando me imiscuo entre os alternativos, sou sempre demasiado colorida e arranjada. Evito os borbotos e engraxo o meu calçado. Os meus neurónios preferem vir numa boa embalagem. Mesmo que isso possa ser interpretado como um QI menos elevado, rapo sempre as axilas. Lamento.

2 comentários:

S disse...

hahaha...lindo!

via disse...

chamo-lhes urbano-depressivos,o perfil é esse, mas um toque de glamour nunca fez mal a ninguém, coloca a alternativa num outro lado, mas coloca-a à mesma.a propósito: tens alguma coisa contra os borbotos??