O Senhor Puntila e o seu criado Matti. A não perder. Pelo texto de Brecht, pela encenação, pela perfeita utilização do vídeo, pela música, pela coreografia, mas sobretudo porque precisamos amar o que temos de melhor. E é impossível não nos rendermos ao portentoso actor Miguel Guilherme. Por 15 Euros, no teatro Aberto. A melhor peça do ano.
domingo, 31 de outubro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Fucked up news
A friend of mine was sent to IPO because her gino suspects she might have something strange in her utherus. She lives alone in Lisbon. She's forty and she wants to have a prince charming and children. Today I am not complaining about my life. Today I am celebrating hers and planning a party to bring about her optimism back again. She is a marvellous person and I adore her. Today I am not complaining about my life. How can I?
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Alternative
Os alternativos são uma espécie muito interessante. Oscilam entre o negligée, blazée, e mais não sei quantos termos franceses muito fashionable e intelectuais e os radicais, proscritos, navegando pelas franjas sociais. Vestem geralmente de escuro, fazem gala de levar o casaco do avô, cheio de borboto, e a malinha da avó, roubada a um baú trancado a naftalina no sótão. Geralmente primam pelos cortes desconcertantes ou pelos cabelos vermelhos. Não usam madeixas. Não condiz com os seus neurónios. Perante a imagem esbatida e descuidada de quem procura diminuir a importância das primeiras impressões, dando a impressão de que o trato está no interior e não nas unhas, surge um elemento de destaque: geralmente uns ténis coloridos ou uns óculos de massa muito, muito grossos. Porque a leitura é farta e as miopias agudizam-se.
Quando percorro muitos filmes do DocLisboa, sinto-me uma outsider. Não sou suficientemente alternativa. Gosto de me perfumar e pintar as unhas com cores normais. Gosto de futebol e de filmes de massas. Gosto do que o povo gosta. Note-se que os bilhetes que comprei para o Tony Carreira foram para a minha mãe, OK? Quando me imiscuo entre os alternativos, sou sempre demasiado colorida e arranjada. Evito os borbotos e engraxo o meu calçado. Os meus neurónios preferem vir numa boa embalagem. Mesmo que isso possa ser interpretado como um QI menos elevado, rapo sempre as axilas. Lamento.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Bossa Nova
Os brasileiros têm muitos defeitos, há que admiti-lo. Muita água de côco e sol na bundinha. Muito boa vida e miséria apaziguadas por tiroteios favelistas e carnavais libidinosos. Mas uma coisa que os brasileiros têm que mais ninguém tem é a maravilhosa união entre a palavra e o ritmo. Pomos a Paula Morelenbaum a cantar Tom Jobim ou a melodiar os poemas dos Vinicius e passamos a amar este povo. Como se a arte de amar, de falar sobre o amor nunca tivesse existido antes de ser cantada assim. Perfeito. Mesmo em tempos de crise, vale a pena ver concertos assim.
What people look for
We all look for the uau thing. We convince ourselves it doesn't exist until some film or love story brings that certainty to ruins. Then all of a sudden, people cling on to a dismayed hope and they keep on Uauing. As long as there's life there's hope... someone said.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Doclisboa1
Podia dizer tanta coisa sobre o filme de abertura do DocLisboa, "José e Pilar", mas não consigo encontrar palavras que honrem a beleza do que acabei de ver.
"A Pilar, que ainda não tinha nascido e tanto tardou a chegar", José Saramago.
"A Pilar, que ainda não tinha nascido e tanto tardou a chegar", José Saramago.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
Tempest
Falava alto. A voz aberta misturava-se com o ribombar do mar, lá fora, a esgalhar as rochas frágeis. Ele bebia caipirinhas umas atrás das outras, esperando que ela o acompanhasse e soltasse mais do que a voz.
Enquanto bebia o meu chocolate quente e as minhas pernas absorviam as gotas da chuva impregnadas nas calças de ganga, ouvia o discurso vago de quem vagamente se conhece.
O ar dos signos. Ele era balança. Ela achava que ele tinha capacidade de voar. Certamente teria, depois de mais algumas caipirinhas e atendendo ao vento que batia nas janelas à nossa volta. Não faço ideia se ela seria terra, fogo ou água. Talvez água. Muito volátil. Encostava-se às paredes de madeira com a lassidão dos eternos ébrios de alma. Ele pendurava-se na caipirinha e no discurso dela. Veio a libertinagem:
- Conheço um homem que vive com duas mulheres. Assim, de forma aberta. – disse ela. Vivem bem, dessa forma. Nenhum dos três se importa. Não percebo porque temos que ser todos formatados. Uma pessoa ser dona de outra e ser apenas isso. - Continuou.
Mudei de ideias. Ela deve ser fogo.
- Não conseguiria uma coisa dessas - disse ele.
- Nem na intimidade? – explorou ela, atrevida.
- Não - afirmou ele. E seguiu-se o discurso da praxe para a fazer crer que a união física é única e aquela mulher com quem ele quer se esconder da tempestade preenche-lhe todo o imaginário e que o enrolanço com duas mamalhudas atléticas nunca lhe eriçou os pêlos e outros apêndices…
Ela responde-lhe com um cliché semelhante: - És o primeiro homem que oiço dizer isto. Que engraçado!- As mulheres mentem tão facilmente. E a sorrir.
Dão gargalhadas. Ela foi simpática. Ele cavalheiro. Nenhum dos dois ficou convencido mas para o objectivo final também não interessa. Quantos de nós revelam as fantasias mais estranhas nos primeiros encontros? Ou no milésimo? Somos sempre um pouco o que o outro quer de nós.
Eles riam-se, satisfeitos com o calor que lhes subia pelas palhinhas, misturando-se com o sangue outonal.
Começou a trovejar mas eles mantinham-se alheios às vagas imensas que pareciam galgar o paredão. Ele esticou as pernas e encostou-se à parede de madeira, embrenhando-se na lassidão dela, deixando que o seu fogo o queimasse.
Enquanto bebia o meu chocolate quente e as minhas pernas absorviam as gotas da chuva impregnadas nas calças de ganga, ouvia o discurso vago de quem vagamente se conhece.
O ar dos signos. Ele era balança. Ela achava que ele tinha capacidade de voar. Certamente teria, depois de mais algumas caipirinhas e atendendo ao vento que batia nas janelas à nossa volta. Não faço ideia se ela seria terra, fogo ou água. Talvez água. Muito volátil. Encostava-se às paredes de madeira com a lassidão dos eternos ébrios de alma. Ele pendurava-se na caipirinha e no discurso dela. Veio a libertinagem:
- Conheço um homem que vive com duas mulheres. Assim, de forma aberta. – disse ela. Vivem bem, dessa forma. Nenhum dos três se importa. Não percebo porque temos que ser todos formatados. Uma pessoa ser dona de outra e ser apenas isso. - Continuou.
Mudei de ideias. Ela deve ser fogo.
- Não conseguiria uma coisa dessas - disse ele.
- Nem na intimidade? – explorou ela, atrevida.
- Não - afirmou ele. E seguiu-se o discurso da praxe para a fazer crer que a união física é única e aquela mulher com quem ele quer se esconder da tempestade preenche-lhe todo o imaginário e que o enrolanço com duas mamalhudas atléticas nunca lhe eriçou os pêlos e outros apêndices…
Ela responde-lhe com um cliché semelhante: - És o primeiro homem que oiço dizer isto. Que engraçado!- As mulheres mentem tão facilmente. E a sorrir.
Dão gargalhadas. Ela foi simpática. Ele cavalheiro. Nenhum dos dois ficou convencido mas para o objectivo final também não interessa. Quantos de nós revelam as fantasias mais estranhas nos primeiros encontros? Ou no milésimo? Somos sempre um pouco o que o outro quer de nós.
Eles riam-se, satisfeitos com o calor que lhes subia pelas palhinhas, misturando-se com o sangue outonal.
Começou a trovejar mas eles mantinham-se alheios às vagas imensas que pareciam galgar o paredão. Ele esticou as pernas e encostou-se à parede de madeira, embrenhando-se na lassidão dela, deixando que o seu fogo o queimasse.
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